Fernando Pessoa - Contextualização


Contextualização sociocultural

Nas últimas décadas do século XIX, instala-se na Europa um clima de tensão que nasceu de rivalidades económicas, político-militares e coloniais. A Grã-Bretanha destacava-se pelo seu vasto império, pelo domínio do comércio mundial, pelos empreendimentos coloniais que financiava e pelo número de ingleses que por todo o continente espalhavam a sua sua língua. A França e a Alemanha afirmavam-se como suas grandes rivais.
Eram de conhecimento público os acordos firmados secretamente entre a Inglaterra e a Alemanha (1898,1912,1914), para partilharem as colónias portuguesas. Mas, se o despoletar da Primeira Guerra desvia as atenções da Inglaterra das possessões portuguesas, o mesmo não sucede com a Alemanha, que ataca as fronteiras de Moçambique e de Angola. A defesa dos territórios ultramarinos obrigou os portugueses a um grande esforço de mobilização.
Os tratados de paz estabelecidos em Paris traçavam uma nova carta política da Europa e do Mundo, que reflectia as transformações levadas a cabo durante a guerra. Novos estados e novas fronteiras são marcados no mapa europeu.
O governo e os direitos dos cidadãos sofrem grandes transformações. As monarquias chegam ao fim e a democracia triunfa; os processos eleitorais foram revistos, passando a haver um maior número de cidadãos com direito a voto.
Portugal empenhou-se em dar efectividade ao mapa cor-de-rosa, marcando a sua presença nas áreas compreendidas entre Angola e Moçambique. A este plano opõe-se a Inglaterra, empenhada em alargar a sua influência no interior do território africano a partir da África do Sul.
O mapa cor-de-rosa apresenta uma zona da África Austral, situada entre Angola e Moçambique, como pertencente a Portugal. A Inglaterra opõe-se frontalmente à ideia de se construir em África um novo Brasil. Tendo o governo português organizado as expedições ao território em litígio, a Inglaterra (partindo do princípio de que só havia direitos históricos onde houvesse ocupação efectiva) impôs a Portugal o Ultimato de 1890.




Contextualização literária / artística

Em consequência do Ultimato inglês, Portugal vive momentos de tensão política e social.
Durante a Primeira Grande Guerra, surge em Portugal o movimento modernista, que toma vulto a partir da revista Orpheu, em 1915.
O espaço que decorre até ao Modernismo é preenchido pelo Simbolismo de Camilo Pessanha, pelo Saudosismo de Teixeira de Pascoaes e pelo Nacionalismo de António Nobre.
Esta nova expressão artística define-se como um movimento estético em que a literatura surge associada às artes plásticas, empreendida pela geração de Fernando Pessoa (1888-1935), Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) e Almada Negreiros (1893-1970).
Surge agora uma poesia que provoca novos modos poéticos e estéticos fora da linha tradicional, contrariando a forte sujeição à ríma e buscando recursos artísticos que ajudassem o poeta a expressar directamente os seus sentimentos, com exclusão de formas simbólicas e com efeitos sonoros e aliterantes dos simbolistas. A ousadia dos poetas deste movimento permitia-lhes comunicar os seus mais profundos sentimentos com a máxima liberdade. Todavia, a sociedade intelectual da época é abalada com este novo tipo de literatura, tal era a sua inclinação para o desprezo do bom senso, com tendências que evoluíam do Sebastianismo mais delirante até às ciências ocultas e à astrologia. Assim, são muitas as críticas a estes intefectuais modernistas, vendo nas suas poesias algo que reflectia perturbações a nível psíquico.
Fernando Pessoa e Sã-Carneiro, após o rompimento com A Águia e a Renascença Portuguesa (revistas saudosistas), dão origem ao grupo do Orpheu, que entra em oposição com os movimentos políticos da época. A revista que lhe dá o nome, de que saíram apenas dois números, reage contra o tradicionalismo e cria uma ruptura com o passado. Considera-se, então, que o Orpheu, pelo seu vanguardismo, inicia o Modernismo em Portugal. E é este espírito de vanguarda que faz criar vontade de romper com o passado, de procurar uma inspiração e formas novas, de se lançar na aventura, tendo a preocupação constante com o futuro.
Os principais temas desta nova expressão artística são a euforia do moderno, que rapidamente conduz ao tédio existencial; a dissolução do sujeito que conduz, frequentemente, ao suicídio; o esforço ridículo do autoconhecimento, entre outros.
Vários "ismos" povoam o Modernismo, tais como Decadentismo, Interseccionismo, Paulismo, Surrealismo, Futurismo, Sensacionismo e Cubismo.


ANTECEDENTES


Simbolismo - escola literária do fim do século XIX, que se originou em França, como reacção contra o Parnasianismo, e que se caracterizou por uma visão subjectiva, simbólica e espiritual do mundo. Adoptou novas formas de expressão, nomeadamente os símbolos, traduzindo as impressões por uma linguagem onde dominavam as preocupações estéticas.

Saudosismo - nome que Teixeira de Pascoaes (o mais representativo poeta saudosista) dá à Religião da Saudade. Pretende-se, assim, fazer reviver no povo português a alma portuguesa, o que é imprescindível para que Portugal viva uma vida própria, bela e independente.

MODERNISMO
Modernismo - movimento estético de vanguarda, iniciado e impulsionado pela geração do Orpheu (segunda década do século XX), no qual a literatura aparece associada às artes plásticas e é por elas Influenciada. Tal movimento surgiu como imperativo de levar a poesia a trilhar no nosso país os caminhos ousados e originais por onde seguia já no resto da Europa.

Decadentismo - surge como uma atitude estética que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Característica visível em Álvaro de Campos, na sua 3ª fase literária, quando, perante a incapacidade das realizações futuristas, o poeta ressente-se sob a forma de abatimento.

Paulismo - consiste na confusão voluntária do subjectivo e do objectivo; na associação de ideias desconexas; frases nominais, exclamativas; aberrações da sintaxe, vocabulário expressivo do tédio, do vazio da alma, do anseio de outra coisa, do vago; uso indiscriminado de maiúsculas para traduzir a profundidade espiritual de certas palavras. (poema Impressões de Crepúsculo)

Cubismo - surge inicialmente na pintura com Matisse e designa um modo de expressão que recria através de planos geométricos elementos da realidade. O Cubismo terá de apresentar os objectos tal como a mente os concebe.

Interseccionismo - espécie de Cubismo na poesia que se caracteriza pelas sobreposições ou cruzamentos de diferentes realidades ou planos. Sucede o estilo sensacionista, sobrepondo ao intimismo lírico romântico de cariz emotivo a expressão sensacional pura, transmitida em malabarismos apalhaçados com fins espectaculares. (poema Chuva Oblíqua)

Sensacionismo - consiste em "sentir tudo de todas as maneiras", ou seja, a sensação é a realidade da vida e base de toda a arte. Deve distinguir-se o sensacionismo de Caeiro do de Campos: o primeiro considera a sensação captada pelos sentidos como única realidade, mas rejeita o pensamento; o segundo procura a totalização das sensações, sobretudo das percepções conforme as sente ou pensa.

Futurismo - propõe o esquecimento do passado e pretende criar e construir o futuro; o desprezo do clássico, do tradicional e estático; o repúdio do sentimentalismo e o ingresso frenético na vida activa (exaltamento do homem de acção); o culto da liberdade, da velocidade, da energia, da força física, da máquina, da violência, do perigo; a veneração da originalidade. Defende o versilibrismo; as palavras em liberdade, mesmo com sacrifício da correcção gramatical; a comunicação de ideias de inteligência, sem interferência de imagens e símbolos; a exploração da alma, da inquietação, da insatisfação, do que se não tem e está para vir, das ciências ocultas, da astrologia, do metapsiquisrno; a proscrição do idealismo romântico. (Manifesto Anti-Dantas)

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