Manifesto Anti Dantas - Mário Viegas

http://www.youtube.com/watch?v=CSRC6-XgSHo

Fernando Pessoa - Contextualização


Contextualização sociocultural

Nas últimas décadas do século XIX, instala-se na Europa um clima de tensão que nasceu de rivalidades económicas, político-militares e coloniais. A Grã-Bretanha destacava-se pelo seu vasto império, pelo domínio do comércio mundial, pelos empreendimentos coloniais que financiava e pelo número de ingleses que por todo o continente espalhavam a sua sua língua. A França e a Alemanha afirmavam-se como suas grandes rivais.
Eram de conhecimento público os acordos firmados secretamente entre a Inglaterra e a Alemanha (1898,1912,1914), para partilharem as colónias portuguesas. Mas, se o despoletar da Primeira Guerra desvia as atenções da Inglaterra das possessões portuguesas, o mesmo não sucede com a Alemanha, que ataca as fronteiras de Moçambique e de Angola. A defesa dos territórios ultramarinos obrigou os portugueses a um grande esforço de mobilização.
Os tratados de paz estabelecidos em Paris traçavam uma nova carta política da Europa e do Mundo, que reflectia as transformações levadas a cabo durante a guerra. Novos estados e novas fronteiras são marcados no mapa europeu.
O governo e os direitos dos cidadãos sofrem grandes transformações. As monarquias chegam ao fim e a democracia triunfa; os processos eleitorais foram revistos, passando a haver um maior número de cidadãos com direito a voto.
Portugal empenhou-se em dar efectividade ao mapa cor-de-rosa, marcando a sua presença nas áreas compreendidas entre Angola e Moçambique. A este plano opõe-se a Inglaterra, empenhada em alargar a sua influência no interior do território africano a partir da África do Sul.
O mapa cor-de-rosa apresenta uma zona da África Austral, situada entre Angola e Moçambique, como pertencente a Portugal. A Inglaterra opõe-se frontalmente à ideia de se construir em África um novo Brasil. Tendo o governo português organizado as expedições ao território em litígio, a Inglaterra (partindo do princípio de que só havia direitos históricos onde houvesse ocupação efectiva) impôs a Portugal o Ultimato de 1890.




Contextualização literária / artística

Em consequência do Ultimato inglês, Portugal vive momentos de tensão política e social.
Durante a Primeira Grande Guerra, surge em Portugal o movimento modernista, que toma vulto a partir da revista Orpheu, em 1915.
O espaço que decorre até ao Modernismo é preenchido pelo Simbolismo de Camilo Pessanha, pelo Saudosismo de Teixeira de Pascoaes e pelo Nacionalismo de António Nobre.
Esta nova expressão artística define-se como um movimento estético em que a literatura surge associada às artes plásticas, empreendida pela geração de Fernando Pessoa (1888-1935), Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) e Almada Negreiros (1893-1970).
Surge agora uma poesia que provoca novos modos poéticos e estéticos fora da linha tradicional, contrariando a forte sujeição à ríma e buscando recursos artísticos que ajudassem o poeta a expressar directamente os seus sentimentos, com exclusão de formas simbólicas e com efeitos sonoros e aliterantes dos simbolistas. A ousadia dos poetas deste movimento permitia-lhes comunicar os seus mais profundos sentimentos com a máxima liberdade. Todavia, a sociedade intelectual da época é abalada com este novo tipo de literatura, tal era a sua inclinação para o desprezo do bom senso, com tendências que evoluíam do Sebastianismo mais delirante até às ciências ocultas e à astrologia. Assim, são muitas as críticas a estes intefectuais modernistas, vendo nas suas poesias algo que reflectia perturbações a nível psíquico.
Fernando Pessoa e Sã-Carneiro, após o rompimento com A Águia e a Renascença Portuguesa (revistas saudosistas), dão origem ao grupo do Orpheu, que entra em oposição com os movimentos políticos da época. A revista que lhe dá o nome, de que saíram apenas dois números, reage contra o tradicionalismo e cria uma ruptura com o passado. Considera-se, então, que o Orpheu, pelo seu vanguardismo, inicia o Modernismo em Portugal. E é este espírito de vanguarda que faz criar vontade de romper com o passado, de procurar uma inspiração e formas novas, de se lançar na aventura, tendo a preocupação constante com o futuro.
Os principais temas desta nova expressão artística são a euforia do moderno, que rapidamente conduz ao tédio existencial; a dissolução do sujeito que conduz, frequentemente, ao suicídio; o esforço ridículo do autoconhecimento, entre outros.
Vários "ismos" povoam o Modernismo, tais como Decadentismo, Interseccionismo, Paulismo, Surrealismo, Futurismo, Sensacionismo e Cubismo.


ANTECEDENTES


Simbolismo - escola literária do fim do século XIX, que se originou em França, como reacção contra o Parnasianismo, e que se caracterizou por uma visão subjectiva, simbólica e espiritual do mundo. Adoptou novas formas de expressão, nomeadamente os símbolos, traduzindo as impressões por uma linguagem onde dominavam as preocupações estéticas.

Saudosismo - nome que Teixeira de Pascoaes (o mais representativo poeta saudosista) dá à Religião da Saudade. Pretende-se, assim, fazer reviver no povo português a alma portuguesa, o que é imprescindível para que Portugal viva uma vida própria, bela e independente.

MODERNISMO
Modernismo - movimento estético de vanguarda, iniciado e impulsionado pela geração do Orpheu (segunda década do século XX), no qual a literatura aparece associada às artes plásticas e é por elas Influenciada. Tal movimento surgiu como imperativo de levar a poesia a trilhar no nosso país os caminhos ousados e originais por onde seguia já no resto da Europa.

Decadentismo - surge como uma atitude estética que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Característica visível em Álvaro de Campos, na sua 3ª fase literária, quando, perante a incapacidade das realizações futuristas, o poeta ressente-se sob a forma de abatimento.

Paulismo - consiste na confusão voluntária do subjectivo e do objectivo; na associação de ideias desconexas; frases nominais, exclamativas; aberrações da sintaxe, vocabulário expressivo do tédio, do vazio da alma, do anseio de outra coisa, do vago; uso indiscriminado de maiúsculas para traduzir a profundidade espiritual de certas palavras. (poema Impressões de Crepúsculo)

Cubismo - surge inicialmente na pintura com Matisse e designa um modo de expressão que recria através de planos geométricos elementos da realidade. O Cubismo terá de apresentar os objectos tal como a mente os concebe.

Interseccionismo - espécie de Cubismo na poesia que se caracteriza pelas sobreposições ou cruzamentos de diferentes realidades ou planos. Sucede o estilo sensacionista, sobrepondo ao intimismo lírico romântico de cariz emotivo a expressão sensacional pura, transmitida em malabarismos apalhaçados com fins espectaculares. (poema Chuva Oblíqua)

Sensacionismo - consiste em "sentir tudo de todas as maneiras", ou seja, a sensação é a realidade da vida e base de toda a arte. Deve distinguir-se o sensacionismo de Caeiro do de Campos: o primeiro considera a sensação captada pelos sentidos como única realidade, mas rejeita o pensamento; o segundo procura a totalização das sensações, sobretudo das percepções conforme as sente ou pensa.

Futurismo - propõe o esquecimento do passado e pretende criar e construir o futuro; o desprezo do clássico, do tradicional e estático; o repúdio do sentimentalismo e o ingresso frenético na vida activa (exaltamento do homem de acção); o culto da liberdade, da velocidade, da energia, da força física, da máquina, da violência, do perigo; a veneração da originalidade. Defende o versilibrismo; as palavras em liberdade, mesmo com sacrifício da correcção gramatical; a comunicação de ideias de inteligência, sem interferência de imagens e símbolos; a exploração da alma, da inquietação, da insatisfação, do que se não tem e está para vir, das ciências ocultas, da astrologia, do metapsiquisrno; a proscrição do idealismo romântico. (Manifesto Anti-Dantas)

Fernando Pessoa


Fernando pessoa (1888-1935)
Fernando António Nogueira Pessoa nasce em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888, e perde o pai aos cinco anos, o que o vai marcar profundamente. Passa a infância em Durban (África do Sul) e recebe uma educação de influência anglo-saxónica, devido ao casamento da sua mãe com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban.
Regressa a Lisboa em 1905 e exerce uma actividade profissional ligada à tradução de documentos comerciais.
A explosão dos heterónimos dá-se em 1914, após o rompimento com a revista A Águia. A morte do seu amigo Mário de Sá-Carneiro, em 1916, em Paris, abala fortemente Fernando Pessoa, que passa a ser dominado por uma nuvem de tédio e melancolia.
É 1934 que marca o ano da publicação da Mensagem, o único livro de versos portugueses, organizado e publicado pelo poeta, que lhe proporcionou o prémio de categoria B, consequência do concurso ao prémio Antero de Quental, do Secretariado de Propaganda Nacional.
A 30 de Novembro de 1935, morre no Hospital de S. Luís dos Franceses, vítima de uma cólica hepática.

O que sabemos da vida de Fernando Pessoa (1888-1935)
1888

Nascimento de Fernando António Nogueira Pessoa, em 13 de Junho, no Lg. de S. Carlos nº 4 – 4º Esq. (entre o Teatro de S. Carlos e a Igreja dos Mártires), em Lisboa.
1893
Nasce um outro filho do casal, em Janeiro: Jorge.
O pai de Fernando Pessoa morre de tuberculose, em Julho.
A família muda-se para uma casa mais modesta, após a morte de Joaquim Seabra Pessoa, em Novembro; a mãe do poeta instala-se com o mesmo, Jorge, a avó Dionísia e duas criadas, na Rua de S. Marçal.
1894
Jorge, o irmão mais novo de Pessoa, morre após a administração de algumas vacinas.
Fernando Pessoa cria o seu primeiro heterónimo, Chevalier de Pas.
1895
João Miguel Rosa, oficial de Marinha de Guerra, futuro padrasto de Fernando Pessoa, embarca para a colónia do Natal (fora nomeado cônsul interino, em Durban).
Ainda nesse ano, em Dezembro, casa por procuração com Maria Madalena, a mãe do futuro poeta.
Fernando Pessoa parte com a mãe para a África do Sul, acompanhado de um tio, durante a viagem.
Viverá dez anos em Durban, num bungalow, em Ridge Road, tendo estudado no Convento de West Street.
Escreve o seu primeiro poema, intitulado À Minha Querida Mamã.
1896
Nasce Henriqueta Madalena, a primeira filha de sua mãe e de seu padrasto.
1898
Nasce Madalena Henriqueta, a segunda filha do casal.
1899
Fernando Pessoa entra para a Durban High School, onde permanecerá durante três anos e será um dos primeiros alunos da turma.
Nesse ano, recebe o "Forum Prize".
Cria o heterónimo Alexander Search.
Ainda no mesmo ano, nasce Luís Miguel, terceiro filho do casal.
1900
Fernando Pessoa ganha um prémio de Francês.
1901
Morre Madalena Henriqueta, a segunda meia-irmã do futuro poeta.
Em Agosto, Fernando, a mãe, o padrasto, Henriqueta, Luís Miguel e Madalena (morta) embarcam para Lisboa. A família instala-se em casa das tias-avós maternas de Pessoa, D. Rita Xavier Pinheiro e D. Maria Xavier Pinheiro da Cunha, em pedrouços.
É aprovado com distinção no seu primeiro exame.
Escreve os primeiros poemas em inglês.
1902
A família regressa a Durban, depois de passar pelos Açores. Fernando Pessoa matricula-se na Commercial School, em Durban (mais tarde, manifesta os seus conhecimentos, n' O Livro do Desassossego, do semi-heterónimo Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros e nos artigos que escreveu para a Revista do Comércio e Contabilidade, que viria a dirigir, com o seu cunhado, em 1926).
1904
É-lhe concedido o "Queen Victoria Memorial Prize", por ter escrito o melhor ensaio em língua inglesa, no exame de admissão à Universidade. Frequenta a High School como aluno universitário, no curso de Letras. Nascera, entretanto, mais um irmão, João.
1905
Em Agosto, regressa a Portugal, apesar de ter passado de ano na Universidade do Cabo da Boa Esperança (de que a High School é uma secção).
Continua a escrever poemas em inglês.
1906
Já em Lisboa, matricula-se no Curso Superior de Letras.
Vive em casa das tias, na Rua da Bela Vista, à Lapa nº 17 – 1º.
Cerca de um ano depois, muda-se para a Calçada da Estrela, 100 – 1º, onde vive com a família e o padrasto, que viera de férias.
1907
Volta a morar na Rua da Bela Vista, com as tias.
Escreve um diário íntimo, em inglês.
Convive com jovens intelectuais na Brasileira do Chiado.
A avó Dionísia morre nesse ano e deixa-lhe uma pequena herança.
Aluga um quarto na Rua da Glória, 4 - r/c.
Desiste do Curso de Letras e monta uma tipografia - a Íbis -, em Portalegre, na Rua da Conceição da Glória, 38-40. Esta tipografia não funcionou, porém, durante muito tempo.
Aluga outro quarto, no Largo do Carmo, 18 – 1º e emprega-se como correspondente estrangeiro em casas comerciais.
1908
Escreve poemas em inglês.
1909
Toma contacto com o Simbolismo, enquanto escola (conhecia já Shakespeare, Milton, Shelley, Keats, Tennyson, E. Allan Poe, Ben Jonhson - os quatro últimos autores foram privilegiados por F. Pessoa, aquando da sua recepção do "Queen Victoria Memorial Prize", atribuído em livros -, Byron, Pope, Wordsworth, Poe, Baudelaire e Cesário Verde).
[O seu livro preferido, logo após a infância, foi Pickwick Papers].
1910
Trabalha na firma Lavado, Pinto & Cª, no Campo das Cebolas.
O poeta Henrique Rosa, irmão de seu padrasto, impressiona-o positivamente, enquanto ser solitário e associal.
Rejeita a oportunidade de ir para Inglaterra como súbdito britânico.
Escreve poesia e prosa em português, inglês e francês.
Por volta de 1912
Lê a obra La Dégénérescence, de Max Nordau, que muito o influenciou, quer a nível pessoal quer ao nível da sua maturação literária - Max Nordau considerava escritores "fim de século", conferindo-lhes uma conotação pejorativa, os simbolistas, os decadentes e os pré-rafaelitas.
Escreve artigos sobre "A Nova Poesia Portuguesa", para a revista A Aguia.
Pessoa estréia-se como crítico literário, provocando polémicas junto à intelectualidade portuguesa.

Até 1914
Escreve n'A Águia. Mantém um círculo de amigos em Lisboa: Mário de Sá-Carneiro, Santa-Rita Pintor; Almada-Negreiros, entre outros.
Intensa produção literária. Escreve O Marinheiro.
1914
Cria os heterónimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro.
Escreve os poemas de O Guardador de Rebanhos e também O Livro do Desassossego.
A 8 de Março, nasce Alberto Caeiro. Pessoa pretendia, com a criação deste heterónimo, fazer uma partida a Mário de Sá-Carneiro.
Aparece, pela primeira vez, uma composição do poeta, publicada na revista Renascença, com o título "Impressões do Crepúsculo".
1915
Sai o primeiro número da revista Orpheu, em que Pessoa participa com alguns poemas. A revista causou escândalo.
A nível da sua vida privada e com a influência da tia Anica, conhece fenómenos de mediunidade. Lia e traduzia também livros de Teosofia.
É por esta altura que sua tia Ana Luísa de Freitas, com quem morava havia algum tempo, vai para a Suíça. Pessoa vai, então, morar para o sótão de uma leitaria, na Rua Almirante Barroso, 12. O dono deste estabelecimento "A Leitaria Alentejana" admirava-o muito, mas em 1917, a casa é transformada numa barbearia.
Ainda neste ano, a mãe do poeta sofre urna congestão cerebral, que a deixará enferma até ao fim da sua vida.
Fernando Pessoa faz os seus primeiros horóscopos.
1916
O melhor amigo do poeta, Mário de Sá-Carneiro, suicida-se em Paris, no hotel de Nice.
Frequenta regularmente os cafés "Martinho da Arcada" e "A Brasileira".
1917
Vive em casa própria, na Rua Bernardim Ribeiro, 11 – 1º.
1918
Trabalha como correspondente em línguas estrangeiras em vários escritórios em Lisboa.
Pessoa publica poemas em inglês, resenhados com destaque no “Times”.
1919
Conhece Ophélia, no escritório do Largo do Corpo Santo, com quem enceta um romance - esta é a única mulher que teve lugar na sua vida.
1920
Vai morar para a Rua Coelho da Rocha, 16 – 1º Dto., a pedido de sua mãe.
A família viria a instalar-se aí posteriormente.
Abre um escritório na Rua da Assunção, 58 – 2º, o nome da firma é Olisipo Lda. e trata-se de uma editora, projecto conjunto com alguns amigos (o poeta abrira já outros escritórios, anteriormente).
Em Outubro, atravessa uma grande depressão, que o leva a pensar em internar-se numa casa de saúde.
Rompe com Ophélia.
1925
Morre a mãe de Fernando Pessoa, em 17 de Março.
1929
O poeta propõe-se ordenar os seus papéis.
Bebe bastante, ainda que não o vejam embriagado.
Volta a relacionar-se com Ophélia.
1930
Alister Crowlley, astrólogo e mago inglês, com quem Pessoa mantinha correspondência, vem a Portugal para o conhecer pessoalmente. Aquele intitula-se a si mesmo a "Besta 666". A sua estada no nosso país foi exuberante, pelas circunstâncias pouco vulgares que se lhe associam. Os jornais da época publicaram alguns artigos que se centravam no desaparecimento de Crowley, em Cascais, na Boca do Inferno. O próprio Pessoa foi entrevistado e pareceu divertir-se bastante com o episódio.
1931
Rompe novamente com Ophélia.
1934
Publica a obra Mensagem, premiada num concurso, com o segundo prémio.
Concorre ao lugar de conservador do Museu da Biblioteca Conde de Castro de Guimarães, em Cascais, o que lhe foi recusado.
Revela grande interesse pelas ciências ocultas.
1935
Morre a 30 de Novembro, na sequência de uma cólica hepática, no Hospital de São Luís dos Franceses.
As suas últimas palavras foram: "Dá-me os óculos" e “Maman, je suis encore ton petit enfant”.
A sua última frase, escrita em inglês, diz: "I know not what tomorrow will bring"

Outros heterónimos
Bernardo Soares – Semi-heterónimo porque apresentava uma mutilação da sua própria personalidade, uma vez que não apresentava a sua capacidade de raciocínio nem a sua faceta afectiva. Autor de O Livro do Desassossego. Só aparecia no seu espírito quando o poeta se encontrava cansado ou quando tinha sono.
Rafael Baldaya – semi-heterónimo, é o filósofo que espelha o tecido social e moral do séc. XX.
António Mora – heterónimo, que exaltou o “regresso dos deuses”, isto é, o paganismo. A defesa do paganismo em detrimento do cristianismo (o próprio F. Pessoa afirmava-se pagão) surge na tentativa de modificar a mentalidade portuguesa.






Biografia de Fernando Pessoa feita pelo próprio poeta


Nome Completo: Fernando António Nogueira Pessoa.


Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio nº 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório), em 13 de Junho de 1888.


Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto, e que foi director-geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral - misto de fidalgos e judeus.


Profissão: A designação mais própria será "tradutor", a mais exacta de "correspondente estrangeiro em casas comerciais". O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.


Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos ou funções de destaque, nenhumas.


Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações, O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: 35 Sonnets (em inglês), 1918; English Poems I-II e English Poems III (em inglês também), 1922, e o livro Mensagem, 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria "Poemas".


Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês, na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.


Ideologia política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes votaria, embora com pena, pela República. Conservador de estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservantismo e absolutamente anti-reaccionário.


Posição religiosa: Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.


Posição iniciática: ……………………………………………………………………………………………...


Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda infiltração católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: "Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação".


Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.


Resumo destas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, grão-mestre dos Templários, e combater, sempre, e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.
Lisboa, 30 de Março de 1935

Cenários de Resposta

Excerto de "Felizmente Há Luar!" - Matilde e Populares

1. As palavras proferidas por Manuel, na citação dada, revelam:
- que a personagem não ficou surpreendida com a ascensão de Vicente, pois os falsos e hipócritas são recompensados e os justos e honestos são condenados;
- a injustiça que reina numa sociedade materialista;
- que até Deus parece estar contra os que vivem miseravelmente;
- (...)
2. De simples elemento do povo, consciente das suas limitações e privações, Vicente vende-se, trocando favores por melhores condições de vida (“Foi feito chefe de polícia.”), desprezando os seus “irmãos” de classe (“Olhou para mim como se nunca me tivesse visto. Estendi-lhe a mão e deu-me uma cacetada na cabeça!”).
3. Traços caracterizadores de Manuel no excerto seleccionado:
- consciente da presença de Matilde (“Manuel, agora, mostra que tinha consciência da presença de Matilde (...)” – informação em nota lateral);
- terno (“Levanta-se e fala com ternura”- informação em didascália);
- revoltado (“Olhe bem para nós, Srª D. Matilde. Abra bem os olhos e veja quem somos e ao que estamos reduzidos.”);
- (...)
4. Ao longo do excerto, Matilde revela uma mudança no seu comportamento. Inicialmente, apresenta-se desesperada “perante a atitude dos populares”, seguidamente, a timidez apodera-se dela, em consequência de ter tomado consciência de que as pessoas a quem recorreu para pedir ajuda nada lhe podem dar. Aliás, agora ela pede “esmola” a quem já tantas vezes lhe pediu, aspecto que Matilde com certeza percebeu pelas palavras proferidas por Manuel (“A senhora, hoje, veio ter connosco porque não sabia para onde se havia de voltar...”; “Mas nós passamos a vida inteira a ir ter convosco porque não temos a quem recorrer!”).

Respostas aos exercícios de funcionamento da língua


Texto "A medida do homem"

1.1. B

1.2. D

1.3. B

1.4. C


2.

1-a

2-g

3-c

4-c

5-f


Texto "História de Portugal"

1.1. C

1.2. A

1.3. B

1.4. B


2

1-a

2-h

3-d

4-e

5-c


3.

1-h

2-c

3-e

4-a

5-f


Texto "Nunca te deixarei morrer, David Crocket"

1.A

2.B

3.B

4.C

5.A

6.A


7.

A-F

B-V

C-F

D-V

E-V

F-F

G-V

H-V

I-F

J-V



Felizmente Há Luar!



Num texto expositivo-argumentativo bem estruturado, de cem a duzentas palavras, apresenta o tema que consideras mais marcante em Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro. Fundamenta a tua opinião com argumentos decorrentes da tua experiência de leitura da obra.


Nota: Questão adaptada do Exame de Português B – 1.a fase, 2.a chamada, 2002.

Texto Expositivo-Argumentativo



Num texto expositivo-argumentativo de cem a duzentas palavras, comenta a seguinte afirmação:


“Matilde surge-nos como a figura mais dramaticamente elaborada de toda a peça.”

Felizmente Há Luar! (questões retiradas de exame nacional)











Análise de Felizmente Há Luar!

Matilde
Ninguém me ouve? Estarão cegos e surdos para não compreenderem o que se passa à vossa volta?

1º Popular
(Dando uma notícia importante de que se esquecera)

Só agora me lembro duma notícia que os vai espantar.


(Ri-se)
E em que não vão acreditar!

(Ri-se)
O Vicente, lembram-se do Vicente? Foi feito chefe de polícia. Vi-o hoje, fardado, seguido por dois esbirros! É verdade! Juro-lhes que é verdade! Olhou para mim como se nunca me tivesse visto. Estendi-lhe a mão e deu-me uma cacetada na cabeça!

2º Popular
Era mesmo ele?

1º Popular
Era ele, digo-lhes eu. Nunca me esqueço duma cara.

(Matilde, profundamente desanimada, começa a afastar-se do grupo e aproxima-se da esquerda do palco.)

Manuel

Não é de espantar. Deus escreve torto por linhas direitas. Não é assim que se devia dizer?

(Matilde, chorando, vai a sair pela esquerda do palco quando Manuel a chama, sem voltar a cabeça e sem fazer um gesto.)

Senhora!

(Matilde estaca e volta-se para o grupo sem saber, ao certo, se a chamaram)

É consigo, senhora.

(Sempre sem voltar a cabeça e limando a faca enquanto fala)

Não se vá, assim, embora, sem levar resposta.

(Matilde volta a aproximar-se do grupo, que finge não dar por dar por ela. Os seus passos são curtos e tímidos. Não sabe porque a chamaram. Manuel prossegue, agora para Rita)

Arranja aí um caixote para ela, Rita.
(...)

Manuel
(Levanta-se e fala com ternura)

Todos aqui, sabemos quem a senhora é, e nenhum de nós é cego ou surdo...

(Observa-a com atenção)
Há quanto tempo não come, minha senhora?

(Matilde encolhe os ombros. Manuel mete a mão num saco, procura qualquer coisa que não encontra e olha para os outros. Um deles levanta-se e, com uma maçã na mão, aproxima-se de Matilde)

Coma essa maçã, Srª D. Matilde. Verá que lhe faz bem.

(Matilde recusa a maçã)

Perguntou-nos, há pouco, o que íamos fazer para libertar o general...
Insinuou mesmo que éramos responsáveis pela sua prisão, já que tínhamos fé nele...
Olhe para nós, Srª D. Matilde. Abra bem os olhos e veja quem somos e ao que estamos reduzidos.
(...)
A senhora, hoje, veio ter connosco porque não sabia para onde se havia de voltar...

(Pausa)
Mas nós passamos a vida inteira a ir ter convosco porque não temos a quem recorrer! E o que nos dão, senhores, que nos dão quando lhe batemos às portas no Inverno, com os filhos embrulhados em trapos, tão cheios duma fome que o pão, só por si, não satisfaz?

(Pausa)Cinco réis, senhora! Dão-nos cinco reis ou dizem-nos que tenhamos paciência!
Felizmente Há Luar!, Luís de Sttau Monteiro
1. Proponha uma possível interpretação para as palavras de Manuel: “Não é de espantar. Deus escreve torto por linhas direitas. Não é assim que se devia dizer?”.

2. Demonstre como Vicente é uma personagem que evoluiu ao longo da obra.

3. Apresente, fundamentando-se no excerto, três traços caracterizadores de Manuel.

4. Comente a atitude de Matilde evidenciada neste momento textual.

Quadro Síntese de Felizmente Há Luar!











Análise de "Felizmente Há Luar!"

Procede à leitura das páginas 61 a 64 da obra "Felizmente Há Luar!" de Luís de Sttau Monteiro e responde às questões:

1. Refira a importância do excerto no contexto da acção da peça.

2. Apresente uma divisão, devidamente fundamentada, do texto em partes.

3. Indique uma das funções que a iluminação cénica desempenha no excerto transcrito.

4. Explicite um aspecto da crítica de carácter político presente no diálogo entre o principal Sousa e Beresford.

5. Defina, com base no texto, cinco traços do perfil psicológico de Beresford.

Felizmente Há Luar!




Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!



Luís de Sttau Monteiro e José Saramago, com as respectivas obras Felizmente Há luar! e Memorial do Convento, recorrem à História para contarem a sua própria história.


Exponha, num texto de sessenta a cento e vinte palavras, a sua opinião sobre a perspectiva apresentada na frase supracitada.

A Acção

A acção

Breve Resumo

Um grupo de populares manifesta o seu descontentamento, nas ruas de Lisboa, face à miséria em que vive.
Um Antigo Soldado, que se encontra junto do grupo, refere a figura do general Gomes Freire como homem generoso e amigo do povo. Vicente, embora seja um elemento do povo, discorda das palavras daquele e tece comentários desfavoráveis acerca do general.
A chegada da polícia vem pôr termo a esta discussão, provocando a dispersão dos presentes.
Vicente é levado pelos dois polícias à presença de D. Miguel Forjaz, um dos três governadores do reino. Vicente, tornando-se traidor da sua classe, aceita desempenhar o papel de delator e denunciar os nomes daqueles que conspiram contra o reino.
Os governadores, D. Miguel, Principal Sousa e Beresford, tentam a todo o custo encontrar o nome de um responsável pela conspiração, responsabilidade que vai recair sobre Gomes Freire.
O general, juntamente com outros conspiradores, é executado na praça pública, em S. Julião da Barra.
A esposa do general, Matilde, e o seu grande amigo, Sousa Falcão, tentam por todos os meios ao seu alcance salvar Gomes Freire, pedindo ajuda a Beresford, aos populares, a D. Miguel e, por fim, a Principal Sousa, mas a morte de Gomes Freire de Andrade era um mal necessário às razões de Estado.

Estrutura Externa

A peça divide-se em dois actos. No interior de cada acto, não existe divisão em cenas.
Estrutura Interna – a acção dramática
Numa primeira fase, é apresentada a situação do país; surgem referências a acontecimentos anteriores que motivam, aliás, o comportamento das personagens.
É a função social do indivíduo que subjaz à construção da personagem e à sua apresentação; a história, por seu lado, surge como um conjunto de situações sem conectividade entre si; cada situação tem uma lógica intrínseca e revela-se completa. Do processo de montagem das várias situações resulta a totalidade da peça.
É de referir que os elementos físicos, paraliterários, têm um significado preciso e indispensável na construção do sentido do episódio a que se assiste - os cenários, a música, a luz, a coreografia revelam-se factores independentes na fabricação de um teatro que não pretende reproduzir uma realidade, mas, antes, suscitar uma reflexão e uma análise crítica.
A unidade da peça não reside, pois, na sequência de acções apresentadas, mas na personagem que as origina - é o general Gomes Freire de Andrade que, apesar de nunca estar presente, funciona como elemento estruturador das diversas situações que constituem os episódios a que assistimos. A peça propõe, afinal, uma reflexão sobre a dialéctica da revolução e da contra-revolução, processo que deve ser encarado numa perspectiva histórica. É a mitificação do herói, feita gradualmente pelo povo, que revelará a intenção crítica e irá conferir ao general o estatuto unificador de uma história contada pelas outras personagens.
Sintetizemos, então, os principais momentos/episódios que ocorrem em cada acto.
Primeiro acto

- o povo, vítima da miséria e da opressão, sonha com a sua salvação, motivado pela esperança que lhe inspira o general Gomes Freire de Andrade, figura que define como "amigo do povo"
- Vicente, um homem do povo, considera Gomes Freire um "estrangeirado" e tenta convencer os populares que o ouvem de que o general nunca será um aliado do povo; mais tarde, será levado por dois polícias junto do governador, D. Miguel de Forjaz, manifestando-se um traidor para com a classe social a que pertence (esta atitude valer-lhe-á a ascensão social, pois o governador alicia-o com a promessa de que lhe dará o cargo de chefe da polícia)
- D. Miguel, preocupado com a hipótese (para ele, iminente) de uma revolução, manda Vicente vigiar a casa de Gomes Freire
- Beresford, governador do reino, informa D. Miguel e o Principal Sousa de que, em Lisboa, se prepara, efectivamente, uma revolução contra o poder instituído (o seu informador é o capitão Andrade Corvo, um ex-maçon, amigo de Morais Sarmento, também maçon)
Os governadores do reino tomam a decisão de destruir o líder dos conspiradores
- Morais Sarmento e Andrade Corvo dispõem-se o denunciar o chefe da conspiração em Lisboa, mediante a intimação de D. Miguel, no sentido do cumprimento de uma "missão"
- Vicente informa os governadores (Beresford, D. Miguel e o Principal Sousa) do número de pessoas que entram em casa de Gomes Freire e anuncia a identidade de algumas; Andrade Corvo, por sua vez, revela aos governadores que são muitas as pessoas que partilham o ideal da revolução, afirmando que já tinham sido enviados emissários desta causa para a província; Andrade Corvo adianta o nome do chefe dos conspiradores: o general Gomes Freire de Andrade
- D. Miguel ordena que se prendam os conspiradores, abarcando um número significativo de pessoas; por outro lado, tenta que a sua atitude surja de forma justificada, pensando, assim, impedir a estranheza perante a sua decisão, cujo objectivo é a repressão e a eliminação de Gomes Freire (os seus argumentos baseiam-se no patriotismo e na defesa do nome e da vontade de Deus)
Segundo acto

- o acto inicia-se exactamente como o anterior, ou seja, Manuel interroga-se “Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?”; através do seu monólogo, o espectador (ou o leitor) tem conhecimento da prisão de Gomes Freire ocorrida na madrugada anterior
- a polícia proíbe os aglomerados dos populares
- Matilde exprime a sua dor e revolta face à situação do marido, o general Gomes Freire; contudo, decide intervir, de modo a conseguir a sua libertação
- António de Sousa Falcão, o "inseparável amigo" de Matilde e do general, surge como a voz que critica o poder instituído e o comportamento abusivo dos governantes, que tentam enganar o povo, mencionando o nome de Deus
- Matilde procura Beresford, a fim de interceder pelo marido; objectivo que não alcança, pois, através do diálogo com Matilde, o governador humilha Gomes Freire
- o padre dá a informação de que seria feita uma acção de graças em todas as paróquias e igrejas dos conventos por todos aqueles que se tinham insurgido contra o governo (esta ocorreria num domingo)
- Matilde apercebe-se da indiferença dos populares perante a situação em que se encontra Gomes Freire (na realidade, eles não têm qualquer hipótese de o ajudar; a traição a que o povo é obrigado é simbolizada na moeda que Manuel oferece a Matilde); sabe-se, entretanto, que Vicente é chefe da polícia
- António de Sousa Falcão transmite a notícia de que a situação de Gomes Freire é cada vez mais crítica (não são autorizadas visitas, encontra-se numa masmorra às escuras, não lhe permitiram escolher um advogado, descuida-se a sua higiene física e a sua alimentação)
- Matilde tenta pedir a D. Miguel que liberte o marido; o governador não a recebe
- Matilde pede ao Principal Sousa que liberte Gomes Freire; o Principal evoca "as razães do Estado" como o motivo da morte do general, apesar de Matilde o acusar de cumplicidade em relação ao destino de seu marido
- Frei Diogo, que confessara Gomes Freire, revela a sua solidariedade para com Matilde
- Matilde acusa o Principal Sousa de não adoptar o comportamento que seria de esperar de um bispo
- Sousa Falcão informa a esposa do general de que já havia fogueiras em S. Julião da Barra, para onde Gomes Freire tinha sido levado, o que leva Matilde a implorar, de novo, ao Principal Sousa a vida do marido
- Matilde tenta consolar-se através da religião; depois, lançará aos pés do Principal Sousa a moeda que Manuel lhe dera
- Matilde assiste à execução do marido, vendo o seu corpo ser devorado pelas chamas, ainda que imagine que o seu espírito vem abraçá-la; profetiza uma nova vida para Portugal, simbolizada no clarão da fogueira, fruto de uma revolução que encerraria o período de ditadura

As Personagens de Felizmente Há Luar!

Caracterização das personagens

POVO
- “Pano de fundo permanente” da peça
- Personagem colectiva
- Espelha a miséria (por Vicente, página 21), ignorância e exploração de que são vítimas
- Triste, medroso, intimidado e de horizontes limitados, simbolizado
. pelo ruído dos tambores (pág. 77/78)
. pela polícia (pág. 81)
- Destaque por Manuel – “o mais consciente dos populares”; Rita; e Antigo Soldado
General Gomes Freire de Andrade
- Nunca está presente
- Figura singular, única, impar
- É acusado de ser conspirador, mas é vítima de uma conspiração, sendo condenado inocentemente
- A sua morte é o primeiro passo para a liberdade do povo português
- O seu retrato é delineado pelas outras personagens:
Antigo Soldado
- Faz de Gomes Freire personificação da liberdade (pág.18/19) e da justiça, mostrando sentimentos de respeito e admiração (pág.20) – figura impar, única que se destaca no contexto onde se move (pág.22)
Manuel
- Na boa de Manuel, pressente-se a esperança de que Gomes Freire vai libertá-los da opressão e do terror em que estão mergulhados, e edificar uma sociedade mais justa e mais livre (pág.21)
Vicente
- Esta personagem diz que é um “estrangeirado” (pág.23) e que pertence a outro grupo social, mais privilegiado (pág.21)
Governadores
- Para estes, o general apresenta um incomodo que convém eliminar (pág.95/96)
- Odiado por D. Miguel (pág.72)
- Principal Sousa receia os valores que Gomes Freire embutiu no povo
- Beresford teme perder o lugar e os privilégios (pág.63)
- Segundo D. Miguel reúne todos os “requisitos” (pág.71)
Matilde
(acto II)
- Homem lúcido e inteligente (pág.95)
- Corajoso, porque enfrenta os perigos (pág.91 e 96)
- Discreto, porque nunca se serviu do seu estatuto para influenciar o povo (pág. 87)
Sousa Falcão
- “Franco, aberto e leal”, oposto de D. Miguel Forjaz
- Corajoso (porque morre pelos seus ideias, sem se “vender”) (pág.137)
Frei Diogo de Melo
- Pela boca deste, o general é um santo (pág.126)
Proximidade com Cristo
- “Crucificar” (pág.70): para designar a morte
- Invocação das 30 moedas (pág. 110 – 120) (quantia pela qual Cristo foi entregue por Judas) – é o apego ao dinheiro que leva á denúncia de Gomes Freire
- Protesto de Matilde com alusão à condenação de Cristo (pág.122)
- Matilde refere a relação íntima do general com o criador (pág.130)
- Todas estas referências remetem para a inocência de Gomes Freire
Matilde de Melo
- É a “companheira de todas as horas” do general
- Personagem individualizada
- Figura central do acto II, onde se mostra apaixonada e corajosa á altura do marido (pág.91)
- Não desanima (pág.121)
- Confessa que também partilha os mesmos ideais do marido (pág.90)
- Resume a vida (no diálogo com Beresford) sublinhando as diferenças entre o “antes” e o “depois” de ter conhecido Gomes Freire (pág. 91/92) e orgulhando-se de tudo que aprendera com ele
- O tom desafiador que emprega ao se dirigir ao marcheal revela o seu desespero (pág.94)
- É a personificação de todos os sacrifícios que as mulheres fazem para manter a família unida (pág.94)
- Perante a indiferença de Beresford, acaba por suplicar uma morte digna para o marido (pág.97/98)
- É a voz da consciência junto dos governantes (pág. 88) obrigando-os a confrontarem-se com a sua presença e assumir os seus actos (pág.101)
- Acusa o povo (pág.101), embora compreenda as suas razões
- Com o principal Sousa, revela inteligência e poder de argumentação conseguindo confundir o prelado e fazer-lhe verdadeiros ensinamentos da doutrina cristã (pág.129) chega mesmo a rogar-lhe uma praga (pág.129) para o atormentar para sempre
- Quando percebe que não pode fazer nada, vira-se para Deus invocando o Juízo Final que encerra a condenação de todos que conspiram contra Gamos Freire (pág.135)
- Imagem viva da dor e da alucinação (quando surge a falar sozinha)
- Á medida que o tempo passa as circunstâncias lhe são adversas, mesmo depois de ter perdido o controle vai ganhando força “crescendo em palco”, acabando mesmo por aparecer de “verde” – esperança – ao contrario de Sousa Falcão, que está de luto (pág.136)
- Destaca-se dos que a rodeiam (como o marido)
- É caridosa (pág.101)
- É um ser excepcional que vive no mundo da hipocrisia, ganância e falta de solidariedade – por isso tenta convencer-se a agir de maneira diferente (pág.84)
- O desespero e o rancor levam-na a por em causa a conduta do marido pois sente que é vã (pág.84)
- Sente-se sozinha (pág.85)
- Encerra a peça:
- Despede-se do marido convicta da sua inocência (pág.139)
- Sente-se junto dele, apesar da distância física
- Recolhe a vontade de Gomes Freire (pág.137)
- Retoma o título (pág. 140)
Manuel
- Símbolo da inteligência e da capacidade de apreciação critica de um povo que, apesar de ser mantido na ignorância pelas classes dirigentes, consegue aperceber-se da situação da sua classe e do país (pág. 16)
- Sabe que é pouco importante, sendo bem vísivel a sua impotência perante a eventual resolução dos problemas em causa (pág.15 e 77)
- Espelha o desânimo, a falta de energia para lutar contra o regime (pág. 109)
- Está consciente das desigualdades sociais do seu tempo (pág.105/107)
- Tem uma enorme dignidade e respeito pela dor alheia
- É solidário, mesmo não tendo nada para oferecer a Matilde, ele põe a mão no e procura algo para lhe oferecer (pág. 105 – didascália)
- O instinto de sobrevivência parece sobrepor-se a todos os sentimentos
Rita
- Aparece no 1º acto, mas é no 2º acto que se individualiza e adquire mais relevo
- Presencia a prisão e a violência exercida sobre Gomes Freire (pág. 82)
- É solidária com Matilde na comunhão (pág. 82/83) e no gesto final (pág.110). Esta solidariedade nasce da comunhão de sentimentos – ambas sabem como o regime pode afectar a vida familiar (Matilde: apoia as opiniões do marido, mas contrariada (pág. 85) Rita: receava-se em tal situação (pág.82).
Antigo Soldado
- Tem um papel importante na acção, uma vez que combateu no regimento de Gomes Freire o que:
- Confirma o percurso militar do herói na peça
- Salienta o doce sabor da liberdade invocado na cantiga (pág. 18)
- Não tem nome
- Simboliza, talvez, todos os homens que combateram por senhores que nem os conhecem e por quem são apenas um numero, confirmando a critica de Vicente a 1 regime que não valoriza o povo que serve nos exércitos (pág.22)
- Personaliza o desalento, pessimismo e a decepção do povo que, uma vez mais, adiada a possibilidade de mudança (pág. 80)
António de Sousa Falcão
- Parece estar constantemente presente na vida do casal já que acompanhara a morte do filho (pág.115) e aconselhara-os a não voltar a Portugal e, por fim, não abandona Matilde
- É o “amigo das coisas importantes e das pequenas coisas” (pág.115)
- Mostra-se profundamente dilacerado com a tragédia que se adivinhara (pág.86)
- Nutre uma grande admiração pelo general mas, ao contrario de Matilde, esta constantemente dominado pela cobardia e pelo desânimo pois tem a consciência do modo como a sociedade funciona (pág.88) procurando convencer Matilde da inutilidade da luta (pág.88)
- A postura combativa de Matilde, empresta-lhe algum alento (pág.89) decidindo estar ao lado de Matilde, toma consciência do seu dever (pág.89)
- Revolta-se contra as palavras de D. Miguel exteriorizando a sua fúria numa tripla imprecação e arrisca-se mesmo a desafiar o nobre (pág.119)
- É uma das personagens com mais densidade psicológica
- Descobre que é cobarde porque não tem força para lutar pelas suas ideias (pág. 136 e 137)
- Calar-se é o preço que tem de pagar para se manter vivo e “livre” (pág.137)
- Só foi verdadeiro consigo próprio quando repensou a situação
Governadores do Reino
Governadores
- Personagens-tipo, representantes do poder
- Compõem o Conselho de Regência
- São o cérebro da conjura (porque “escolhem (alguém) que valha a pena crucificar” sem provas concretas da sua culpa (pág.70)
- Aproximam-se do carácter vil (ordinário) e mesquinho, cada um tem diferentes interesses e invocam razões diferentes para a morte de Gomes Freire
D. Miguel Pereira Forjaz
- Representa a Nobreza
- É o primeiro a proferir o nome do general (quando interroga Vicente - pág.34) e o primeiro a manifestar desagrado por Gomes Freire, não respeitando sequer laços familiares
- Incube Vicente de espiar a casa de Gomes Freire (pág.38) a troco de um “posto de polícia”
- É um absolutista convicto
- O seu desejo é manter o estado das coisas – uma sociedade perfeitamente estratificada (pág.69)
- Receia uma eventual revolução por povo por influencia d revolução francesa e seus ideais de revolta de Pernambuco, no Brasil (pág. 37 / 43)
- Defende acaloradamente a distinção entre classes entre classes, porque acredita que cada homem esta sujeito a um determinismo de ordem social e que as aparências definem os homens, existindo inevitavelmente uma barreira a separar as classes dominantes das dominadas (pág.69)
- Prepotente, afastado do povo, por isso teme a popularidade do general que pode vir a afasta-lo do seu cargo (pág.70)
- Cruel e exerce o poder de forma violenta e incorrecta (pág.60)
- Sabe manipular as pessoas e situações, não olhando a meios para atingir os seus objectivos – serve-se da religião para emocionar o povo (pág.73), e serve-se da corrupção para “comprar” a denúncia (pág.65)
- É insensível, porque recusa-se a receber Matilde, ofendendo-a na resposta que lhe envia (pág.119)
- Segundo Sousa falcão é “frio, desumano, calculista” e odeia Gomes Freire, “personificação da mediocridade consciente e rancorosa” (pág.117)
- Falso cristão (pág.113)
- Frio e cruel – no final evidencia-se mais com a fase final (pág.131)
- Serve-se da execução publica para servir de exemplo para os outros mas foi inútil porque 3 anos mais tarde a revolução liberal triunfara, tirando-o do poder.
Principal Sousa
- Representa o poder da igreja e sua intervenção nos negócios do estado – principio mais atacado pelos franceses (pág.42)
- É um prelado (bispo) hipócrita que parece hesitar quando pretendem condenar Gomes Freire sem provas, mas é só para mostrar que foi convencido por outros para poder ter a sua “consciência tranquila” (pág.64) mas depois encontra razoes pessoais que o parecem tranquilizar (pág.72)
- Serve-se de um discurso eclesiástico, recorrendo a citações bíblicas que deturpa (desfigura) em função dos seus interesses recorrendo a metáforas estereotipadas (pág.36) e ao tom falsamente paternalista e compreensivo (pág.38)
- Convém-lhe manter o status quo e crê-se investido numa missão salvífica (pág.40)
- Demagogo, porque tem consciência de que o poder dos reis é injusto mas teme que o povo saia da ignorância o que poderá implicar a sua própria condenação (pág.36/37)
- Detesta Beresford, mas é incapaz de manter uma discussão seria e frontal com ele, conseguindo ultrapassar as divergências pessoais e solicitar a colaboração deste (pág.59)
- Matilde desmascara-o – acusa-o da falsidade e infâmia (má fama), a ele e a toda a sua classe social (pág.123)
- Julga-se num plano superior (pág.121) mas depois Matilde depois é que fica superior, mandando-o calar (pág.124)
- No fim parece que as acusações de Matilde fizeram eco na consciência (pág.134)
- Fica desarmado perante a coragem e sabedoria de Matilde que depois “tira a moeda do bolso” e atira-a para o chão – condenação e acentua o valor pelo qual o Principal Sousa regeu a sua vida – bens materiais.
Beresford
- Encarregue de reorganizar o exército Português representa o domínio inglês e a que Portugal estava sujeito
- Despreza o nosso país e os portugueses, procurando todas as ocasiões para humilhar o povo português (pág.55)
- Tem um espírito crítico porque está distanciado emocionalmente de um povo que não é seu assim, considera que vive “num país de intrigas e traições” (pág.63)
- Despreza o clero que trata por “seita” (pág.63)
- Não se cansa de provocar o principal Sousa usando a ironia (pág.41 e 54)
- Sorri da corrupção e da denúncia que dominam a sociedade (pág.44) mas serve-se dessas armas para aniquilar Gomes Freire agindo do mesmo ódio daqueles que critica e revelando ser um homem prático (pág.68/69)
- Critica a situação socio-económica e cultural portuguesa (pág.57) compara-a com a prosperidade inglesa (pág.56) e com a tolerância religiosa que lá se vive (pág.57)
- Segundo D. Miguel é “mercenário” (aquele que trabalha por interesse) (pág.58)
- Afirma várias vezes que o seu único interesse é o dinheiro que recebe e que a sua “estada” é um sacrifico (pág.58)
- Odeia Gomes Freire porque é um dos poucos “capaz de o destronar” (pág.64)
- Cínico e sem sentimentos – quando Matilde o procura e lhe pede para imaginar no lugar do marido (pág.93) humilhando-a, para atingir o seu homem (pág.94)
- A sua última intervenção é marcada pela arrogância e a insensibilidade que o caracterizam (é cruel) (pág.99)
Delatores
Vicente
- Única personagem que evolui, transitando de um grupo social (o povo) para o grupos dos delatores
- Astuto, é pela polícia que denuncia Gomes Freire, que lhe permitirá ascender económica e socialmente
- Personifica mais um dos “vendidos” de uma sociedade corrupta
- É um homem frustrado por ter nascido pobre, revoltado pelas diferenças sócias (pág. 27)
- Marcado pelo estigma da diferença (pág.27)
- Traidor, recorre á traição para ultrapassar a sua condição pois sabe que só pactuando com os poderosos e agindo como eles terá um lugar no mundo que inveja (pág. 24 – dialogo com policias)
- Hipócrita, tenta inspirar confiança “das gentes” (pág.25)
- Não tem escrúpulos, porque diz que só se rege pelos valores do dinheiro e da força (pág.25)
- Calculista e frio, porque diz aos policias que se fosse promovido na policia não se ia lembrar mais deles e quando vê um popular (seu amigo de rua antigamente, já não se lembra dele) (pág.103)
- Consegue ser pior do que as forças de ordem, porque as forças de ordem actuam por obediência, respeitando uma hierarquia estabelecida, ele, ao contrário, colabora voluntariamente com o poder estabelecido visando apenas o lucro pessoal para satisfazer a sua ambição
- Ambicioso e esperto, quando os policias lhe dizem que vai falar com um dos governadores do reino, presente que chegou a sua oportunidade de subir na vida (pág.30/31) e quando fala a D. Miguel (pág.35) e no modo como empresta dignidade á missão de vigiar o general (pág.38)

Andrade Corvo
- Serve-se de um discurso argumentativo para aliciar o colega não evidenciando quaisquer escrúpulos e vende-se facilmente (pág.47)
- Tem mais destaque do que Morais Sarmento
- Preguiçoso, serve-se da denúncia para não voltar a trabalhar (pág.45)
- Segundo Beresford: “mau oficial, ignorante”, e até “pedreiro-livre” (pág.43)
- Ganancioso e oportunista, quando regenera o seu passado de “maçon” e admite ter andado “perdido” (pág.50)
- Cobarde pois aparece “embuçado” e um adulador pois aparece uma segunda vez em cena para dizer “cá ando sempre fiel a el-rei na missão que me incumbiram” (pág.64)
- A sua presença em palco acaba no final do primeiro acto quando finalmente refere o nome que os governadores esperavam (pág.71)
Morais Sarmento
- Preocupa-se com o que vão dizer aos governadores
- Limita-se a ser testemunha (pág.48)
…Os dois…
- Simbolizam o lado do negativo do exército português, que precisava do marcheal inglês para “entrar na ordem”, opondo ao general Gomes Freire
Os dois policiais
- Simbolizam o exercício da autoridade do governo
- São “iguais a todos os polícias”, isto é, como alguém que não se distingue no meio de uma força que deve agir segundo determinados princípios
- Aparecem em cena para dispersas ajuntamentos de populares evitando, deste modo, a propagação da revolta
- Conscientes do poder, ameaçam o povo (pág.81)
- Ingénuo, porque pensavam que Vicente depois de promovido se ia lembrar deles (pág.31)

O Teatro Épico

O Teatro Épico
Foi Bertolt Brecht o teorizador do teatro épico. As suas peças revelam a doutrina do teatro épico, que procura representar o mundo e o homem como realidade em constante devir.
Trata-se de um teatro "moderno", que se opõe ao teatro aristotélico (de forma dramática), criando, então, o termo épico, sinónimo de narrativo (narra acontecimentos que envolvem o espectador).
Brecht elaborou uma tabela que representa as características de um teatro épico por contraste com um teatro de forma dramática.
Sintetizámos a tabela nos seus aspectos mais relevantes:


Um dos elementos mais marcantes do teatro épico é o chamado efeito de distanciação. Tal efeito está ligado à técnica que confere aos acontecimentos representados um "cunho de sensacionalidade", deixando estes de ser evidentes e naturais. O objectivo desta técnica de distanciamento é proporcionar ao espectador uma análise e uma crítica dentro de uma perspectiva social.
O teatro épico tem incontestavelmente uma função social, que conduz o espectador a uma apreciação crítica não apenas do que está a ser representado mas também da sociedade em que se insere. O distanciamento causa uma espécie de "efeito de alienação", desviando, assim, o público do caso narrado. Logo, uma vez não identificado com o mundo cénico, vê de fora a sua própria situação social reflectida no palco.
Através desta técnica, estuda-se o comportamento humano em determinadas situações, levando o público a tomar consciência de que tudo pode e deve ser modificado, exigindo dele a tomada de decisões.

Felizmente Há Luar!


VIDA E OBRA DE LUÍS DE STTAU MONTEIRO


Nasceu em Lisboa, em 3 de Abril de 1926, filho de um jurista e diplomata.

Com 10 anos, parte para Inglaterra, regressando em 1943, data em que o pai, o embaixador Armindo Monteiro, é demitido do cargo por Salazar.

Manterá sempre uma ligação afectiva e um fascínio por Londres.

Licenciou-se em Direito na Faculdade de Lisboa, exercendo advocacia por pouco tempo.

Parte, de novo, para Londres, torna-se corredor da Fórmula 2, dedica-se à pesca e casa-se com uma senhora inglesa.
O amigo e escritor José Cardoso Pires arrastá-lo-á para o jornalismo e para a ficção.
Estreou-se:
- com o romance Um Homem não Chora, 1960,
- e, no ano seguinte, escreveu a sua melhor obra, Angústia para o Jantar.

Dedicou-se ao teatro, sendo Felizmente há Luar!, 1961, a sua mais famosa peça.
O êxito foi tal que já se venderam 160 mil exemplares.
Sttau Monteiro recebe os primeiros ecos do êxito na cadeia do Aljube, onde se encontrava preso pela PIDE por infundado envolvimento na revolta de Beja.
Em 1971, com Artur Ramos, adapta A Relíquia de Eça de Queirós ao teatro, que é representada no Teatro Maria Matos.
Tornou-se uma figura popular quando apareceu no júri do programa televisivo A Cornélia.
Conti­nuou com a publicação da Guidinha em
O Jornal.
A gastronomia foi sempre um tema que tratou ao longo da vida em vários jornais. Escreveu ainda a telenovela Chuva na Areia.
Faleceu em 27 de Julho de 1993, quando tinha anunciado outras obras.

O Teatro Épico


Foi Bertolt Brecht o teorizador do teatro épico. As suas peças revelam a doutrina do teatro épico, que procura representar o mundo e o homem como realidade em constante devir.
Trata-se de um teatro "moderno", que se opõe ao teatro aristotélico (de forma dramática), criando, então, o termo épico, sinónimo de narrativo (narra acontecimentos que envolvem o espectador).
Um dos elementos mais marcantes do teatro épico é o chamado efeito de distanciação. Tal efeito está ligado à técnica que confere aos acontecimentos representados um "cunho de sensacionalidade", deixando estes de ser evidentes e naturais. O objectivo desta técnica de distanciamento é proporcionar ao espectador uma análise e uma crítica dentro de uma perspectiva social.
O teatro épico tem incontestavelmente uma função social, que conduz o espectador a uma apreciação crítica não apenas do que está a ser representado mas também da sociedade em que se insere. O distanciamento causa uma espécie de "efeito de alienação", desviando, assim, o público do caso narrado. Logo, uma vez não identificado com o mundo cénico, vê de fora a sua própria situação social reflectida no palco.
Através desta técnica, estuda-se o comportamento humano em determinadas situações, levando o público a tomar consciência de que tudo pode e deve ser modificado, exigindo dele a tomada de decisões.