A Acção

A acção

Breve Resumo

Um grupo de populares manifesta o seu descontentamento, nas ruas de Lisboa, face à miséria em que vive.
Um Antigo Soldado, que se encontra junto do grupo, refere a figura do general Gomes Freire como homem generoso e amigo do povo. Vicente, embora seja um elemento do povo, discorda das palavras daquele e tece comentários desfavoráveis acerca do general.
A chegada da polícia vem pôr termo a esta discussão, provocando a dispersão dos presentes.
Vicente é levado pelos dois polícias à presença de D. Miguel Forjaz, um dos três governadores do reino. Vicente, tornando-se traidor da sua classe, aceita desempenhar o papel de delator e denunciar os nomes daqueles que conspiram contra o reino.
Os governadores, D. Miguel, Principal Sousa e Beresford, tentam a todo o custo encontrar o nome de um responsável pela conspiração, responsabilidade que vai recair sobre Gomes Freire.
O general, juntamente com outros conspiradores, é executado na praça pública, em S. Julião da Barra.
A esposa do general, Matilde, e o seu grande amigo, Sousa Falcão, tentam por todos os meios ao seu alcance salvar Gomes Freire, pedindo ajuda a Beresford, aos populares, a D. Miguel e, por fim, a Principal Sousa, mas a morte de Gomes Freire de Andrade era um mal necessário às razões de Estado.

Estrutura Externa

A peça divide-se em dois actos. No interior de cada acto, não existe divisão em cenas.
Estrutura Interna – a acção dramática
Numa primeira fase, é apresentada a situação do país; surgem referências a acontecimentos anteriores que motivam, aliás, o comportamento das personagens.
É a função social do indivíduo que subjaz à construção da personagem e à sua apresentação; a história, por seu lado, surge como um conjunto de situações sem conectividade entre si; cada situação tem uma lógica intrínseca e revela-se completa. Do processo de montagem das várias situações resulta a totalidade da peça.
É de referir que os elementos físicos, paraliterários, têm um significado preciso e indispensável na construção do sentido do episódio a que se assiste - os cenários, a música, a luz, a coreografia revelam-se factores independentes na fabricação de um teatro que não pretende reproduzir uma realidade, mas, antes, suscitar uma reflexão e uma análise crítica.
A unidade da peça não reside, pois, na sequência de acções apresentadas, mas na personagem que as origina - é o general Gomes Freire de Andrade que, apesar de nunca estar presente, funciona como elemento estruturador das diversas situações que constituem os episódios a que assistimos. A peça propõe, afinal, uma reflexão sobre a dialéctica da revolução e da contra-revolução, processo que deve ser encarado numa perspectiva histórica. É a mitificação do herói, feita gradualmente pelo povo, que revelará a intenção crítica e irá conferir ao general o estatuto unificador de uma história contada pelas outras personagens.
Sintetizemos, então, os principais momentos/episódios que ocorrem em cada acto.
Primeiro acto

- o povo, vítima da miséria e da opressão, sonha com a sua salvação, motivado pela esperança que lhe inspira o general Gomes Freire de Andrade, figura que define como "amigo do povo"
- Vicente, um homem do povo, considera Gomes Freire um "estrangeirado" e tenta convencer os populares que o ouvem de que o general nunca será um aliado do povo; mais tarde, será levado por dois polícias junto do governador, D. Miguel de Forjaz, manifestando-se um traidor para com a classe social a que pertence (esta atitude valer-lhe-á a ascensão social, pois o governador alicia-o com a promessa de que lhe dará o cargo de chefe da polícia)
- D. Miguel, preocupado com a hipótese (para ele, iminente) de uma revolução, manda Vicente vigiar a casa de Gomes Freire
- Beresford, governador do reino, informa D. Miguel e o Principal Sousa de que, em Lisboa, se prepara, efectivamente, uma revolução contra o poder instituído (o seu informador é o capitão Andrade Corvo, um ex-maçon, amigo de Morais Sarmento, também maçon)
Os governadores do reino tomam a decisão de destruir o líder dos conspiradores
- Morais Sarmento e Andrade Corvo dispõem-se o denunciar o chefe da conspiração em Lisboa, mediante a intimação de D. Miguel, no sentido do cumprimento de uma "missão"
- Vicente informa os governadores (Beresford, D. Miguel e o Principal Sousa) do número de pessoas que entram em casa de Gomes Freire e anuncia a identidade de algumas; Andrade Corvo, por sua vez, revela aos governadores que são muitas as pessoas que partilham o ideal da revolução, afirmando que já tinham sido enviados emissários desta causa para a província; Andrade Corvo adianta o nome do chefe dos conspiradores: o general Gomes Freire de Andrade
- D. Miguel ordena que se prendam os conspiradores, abarcando um número significativo de pessoas; por outro lado, tenta que a sua atitude surja de forma justificada, pensando, assim, impedir a estranheza perante a sua decisão, cujo objectivo é a repressão e a eliminação de Gomes Freire (os seus argumentos baseiam-se no patriotismo e na defesa do nome e da vontade de Deus)
Segundo acto

- o acto inicia-se exactamente como o anterior, ou seja, Manuel interroga-se “Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?”; através do seu monólogo, o espectador (ou o leitor) tem conhecimento da prisão de Gomes Freire ocorrida na madrugada anterior
- a polícia proíbe os aglomerados dos populares
- Matilde exprime a sua dor e revolta face à situação do marido, o general Gomes Freire; contudo, decide intervir, de modo a conseguir a sua libertação
- António de Sousa Falcão, o "inseparável amigo" de Matilde e do general, surge como a voz que critica o poder instituído e o comportamento abusivo dos governantes, que tentam enganar o povo, mencionando o nome de Deus
- Matilde procura Beresford, a fim de interceder pelo marido; objectivo que não alcança, pois, através do diálogo com Matilde, o governador humilha Gomes Freire
- o padre dá a informação de que seria feita uma acção de graças em todas as paróquias e igrejas dos conventos por todos aqueles que se tinham insurgido contra o governo (esta ocorreria num domingo)
- Matilde apercebe-se da indiferença dos populares perante a situação em que se encontra Gomes Freire (na realidade, eles não têm qualquer hipótese de o ajudar; a traição a que o povo é obrigado é simbolizada na moeda que Manuel oferece a Matilde); sabe-se, entretanto, que Vicente é chefe da polícia
- António de Sousa Falcão transmite a notícia de que a situação de Gomes Freire é cada vez mais crítica (não são autorizadas visitas, encontra-se numa masmorra às escuras, não lhe permitiram escolher um advogado, descuida-se a sua higiene física e a sua alimentação)
- Matilde tenta pedir a D. Miguel que liberte o marido; o governador não a recebe
- Matilde pede ao Principal Sousa que liberte Gomes Freire; o Principal evoca "as razães do Estado" como o motivo da morte do general, apesar de Matilde o acusar de cumplicidade em relação ao destino de seu marido
- Frei Diogo, que confessara Gomes Freire, revela a sua solidariedade para com Matilde
- Matilde acusa o Principal Sousa de não adoptar o comportamento que seria de esperar de um bispo
- Sousa Falcão informa a esposa do general de que já havia fogueiras em S. Julião da Barra, para onde Gomes Freire tinha sido levado, o que leva Matilde a implorar, de novo, ao Principal Sousa a vida do marido
- Matilde tenta consolar-se através da religião; depois, lançará aos pés do Principal Sousa a moeda que Manuel lhe dera
- Matilde assiste à execução do marido, vendo o seu corpo ser devorado pelas chamas, ainda que imagine que o seu espírito vem abraçá-la; profetiza uma nova vida para Portugal, simbolizada no clarão da fogueira, fruto de uma revolução que encerraria o período de ditadura

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