Análise de poemas - Fernando Pessoa
“ Gato que brincas na rua”
A tendência excessiva para a intelectualidade e consequentemente para a abstracção leva Pesssoa ortónimo a ser incapaz de sentir e, por isso mesmo, a desejar ser inconsciente para poder atingir uma felicidade cada vez mais utópica e inatingível. Por isso, em “Ela canta, pobre ceifeira”, o poeta inveja a ingenuidade da ceifeira que, sendo infeliz, não tem disso consciência e, paradoxalmente, é feliz. Essa “inveja” que o poeta sente dos seres felizes assume o auge em “ Gato que brincas na rua”, onde é o próprio animal, porque não pensa, porque não se conhece, que aparece como uma espécie de “modelo” para se atingir a felicidade (“Invejo a sorte que é tua/ Porque nem sorte se chama/ (...)És feliz porque és assim/ (...) eu vejo-me e estou sem mim, / conheço-me e não sou eu”).
Aspectos temáticos:
- A felicidade de não pensar;
- O isolamento do “eu” face às “pedras e gentes”;
- A inveja do sujeito poético da incapacidade de racionalização do animal;
- O desconhecimento, a sensação de estranheza do “eu” em relação a si próprio.
Análise do Poema: “Bóiam leves, desatentos”
1. Encontra os elementos que sugerem indefinição e estagnação, que provocam o tédio e o cansaço de viver.
- Bóiam, desatentos, sono, corpo morto, folhas mortas, águas paradas, tédio...
1.1. Mostra como são importantes para a definição do estado de espírito do Poeta.
- Conotam claramente o estado de indefinição e estagnação do poeta: estagnação exterior = estagnação interior.
2. Observa que há uma progressão na construção metafórica: da comparação passa-se à metáfora. Justifica essa progressão.
- Para explicitar o tema.
3. Há dois gerúndios e dois oximoros. Transcreve os versos onde se encontram.
- Versos 8 e 9.
3.1. Explicita o seu sentido.
- Impossibilidade de sair do estado de estagnação.
4. O verso 12 é o verso-chave. Explica o seu sentido.
- Fatalismo de não ser o que pretendeu ser.
5. Indica o tema do texto.
- Tédio, absurdo.
5.1. Mostra como está desenvolvido.
- Em dois momentos: 1ª as estrofes 1 e 2, onde se exprime o estado psicológico do “eu”; 2ª a estrofe 3, onde se justifica esse mesmo estado.
Marcas de subjectividade/ objectividade na expressão lírica do “eu”:
- presença do “eu” na primeira pessoa pronominal e verbal;
- objectivação dos “pensamentos” como sujeito de 3ª pessoa;
- visualização do mundo subjectivo dos sentimentos (“mágoa”, “tédio”), exteriorizado pelas imagens;
- desdobramento do “eu” em sujeito e objecto (“Não sei”.../ coisas... pós...);
- reificação do mundo interior (“são coisas”)
Marcas características da poesia ortónima:
- os elementos aquáticos da simbólica pessoana;
- o cruzamento do sentir e do pensar;
- o oxímoro;
- a simplicidade formal;
- a sugestão poética simbolista.
Análise do poema “O menino da sua mãe”
Este poema em seis estrofes de cinco versos (quintilhas), de versos regulares de 6 sílabas e rimados -esquema abaab, que se repete nas diferentes quintilhas, ainda que com rimas diferentes - destoa um pouco no conjunto do Cancioneiro por, aparentemente, abordar um tema social - o da guerra e dos meninos injustamente roubados à idade ("Agora que idade tem?"), às mães e às velhas amas, à infância, afinal. Trata-se, efectivamente, de um poema de base narrativa, com narrador - o poeta; narração de uma história; acção - a morte na guerra; personagens; espaço - plaino abandonado/lá longe, em casa; e tempo - passado. O narrador é subjectivo, visto emitir juízos de valor sobre o que conta e até sobre os motivos desta morte prematura. Em todo o caso, naturalmente que aqui, sob forma narrativa, se transmitem sentimentos (mesmo que "fingidos" no sentido de fingimento pessoano), emoções, ideias - logo, expressão do Eu, lirismo.
Nas duas primeiras quintilhas, conta-se, descreve-se a situação vivida pelo protagonista e também se faz o retrato da personagem no momento actual. A descrição é feita em termos realistas, "fortes", como convém a quem quer fazer ver.
Nas estrofes seguintes, predomina a emoção, o discurso judicativo ou valorativo. O jovem, cuja juventude e perda dela são referidas em frases exclamativas, que já não tem idade (como se refere entre parênteses - discurso parentético que realça a mensagem nele contida) é, afinal, "filho único", cujo nome é, por vontade materna, O menino da sua mãe - é um menino-símbolo de uma mãe-símbolo e ambos personagens colectivas. Regressa-se nas 4ª e 5ª quintilhas à descrição e à emoção: a cigarreira breve, símbolo do que não morre, do que fica de uma vida, essa sim, breve (deves ter reconhecido a figura estilística da hipálage); o lenço bordado dado pela criada velha/que o trouxe ao colo.
A última quintilha lança um olhar sobre o espaço familiar: "Lá longe, em casa, há a prece:/"Que volte cedo e bem!" Só que a prece é, sem que lá em casa o saibam, inútil, agora que "o menino da sua mãe" 'jaz morto e apodrece" (este verbo substitui e intensifica o realismo do arrefece da 1ª estrofe). Pelo meio, novo discurso parentético que aponta subtilmente a causa que está por detrás desta morte prematura (Malhas que o Império tece!), ou seja, hoje e sempre, as vítimas que o desejo de Impérios faz.
Sugestão de Correcção Poema "Leve, breve, suave"
1. As três palavras que iniciam o poema, três adjectivos que concorrem para a descrição do “canto de ave”, contêm em si, desde logo, uma aliteração dos sons “l” e “v”, que deixam transparecer a doçura e a suavidade do canto. Além disso, semanticamente apontam para uma ideia de candura, de leveza, de harmonia, um pouco como o canto da ceifeira” que havia prendido a atenção do sujeito poético.
2.1 Embora belo e calmante, esse canto de ave que é escutado pelo sujeito poético é fugaz e efémero, tal como se pode comprovar pelo verso: “ Escuto e passou...”
2.2 O primeiro verbo, “escuto”, encontra-se no Presente do Indicativo; já “passou”, encontra-se no Pretérito Perfeito do Indicativo, sendo que a combinação entre estes dois tempos verbais reenvia para a rapidez com que o canto se esvaiu. “Parece que foi só porque escutei/ Que parou.”, isto é, o momento de encanto desfaz-se logo que o eu intervém para ouvir. As reticências que acompanham esse verso reiteram a fugacidade desse momento, evidenciando a tristeza do sujeito poético ao ver que, no momento em que ia apreciar o canto, este cessou, cessando também as constatações que da sua audição pudessem advir.
3. Esse momento de encanto foi quebrado assim que, depois de ter experimentado a sensação quase inconsciente de ouvir o canto - “Sobe no ar com que principia/ O dia. /Escuto...”, o sujeito poético inicia o seu processo consciente de filtrar todas as sensações pelo filtro da razão, isto é, é-lhe impossível não intelectualizar todas as emoções. Deste modo, assim que escuta o canto (emoção/sensação), de imediato intelectualiza-o “...passou...”.
4. Nesta estrofe, o eu poético, ante a fugacidade dos momentos de encanto, experimenta sentimentos como a amargura, o desalento e a frustração.
5. A primeira evidência da inevitabilidade do peso da razão sobre o coração /sentimentos é a repetição do advérbio de negação “nunca” no verso 8, em conjugação com o pronome indefinido “nada”. Nesse “nada”, hiperbolizado pelo sujeito poético que diz, nas coisas mais simples como a madrugada, o dia ou crepúsculo, não consegue apenas sentir, pode-se evidenciar igualmente uma aliteração dos sons “n”, no verso 8 e “i”, nos versos 10 e 11. Essas repetições dão ênfase ao estado derrotista e conformado do sujeito poético pela perda do gozo instintivo do prazer dos sentidos.
Poema "Quando as crianças brincam"
Quando as crianças brincam/ E eu as oiço brincar,/ Qualquer coisa em minha alma/ Começa a se alegrar.
A memória visual de Pessoa é activada pelo movimento das crianças, sobretudo pelos sons. A memória humana guarda eventos, muitas das vezes, relacionando-os com os sentidos (cheirar algo pode activar a nossa memória, assim como ver algo, ou sentir algo com as mãos). Neste caso é o som que activa a memória de Pessoa. Mas vemos que a actividade das crianças activa em Pessoa uma alegria e não propriamente uma memória imediata.
E toda aquela infância/ Que não tive me vem,/ Numa onda de alegria/ Que não foi de ninguém.
A razão porque é actividade uma "alegria" e não uma "memória imediata", tem a ver com aquela ambivalência de que falávamos: a infância de Pessoa foi feliz e infeliz, e ele não pode lembrar-se dela sem esquecer estes dois lados da mesma. No caso da 2.ª estrofe, Pessoa tira uma alegria de uma infância que não teve, precisamente porque a sua própria infância não foi completamente feliz. Não o foi completamente, mas também não o foi totalmente infeliz. É esta réstea de felicidade, da vida até aos 6 anos, que de certo modo torna Pessoa são, que lhe permite lembrar um pouco da felicidade infantil. É a partir deste pouco que Pessoa extrapola o resto - este pouco serve-lhe para imaginar uma "infância totalmente feliz". É esta "memória projectada" que é dele, quando ele olha para as crianças. Ele imagina assim como poderia ter tido uma infância totalmente feliz e faz desta projecção a sua realidade momentânea.
Por isso ele diz que a memória "não foi de ninguém". É uma memória construída, projectada a partir de uma outra memória parcial.
Se quem fui é enigma,/ E quem serei visão,/ Quem sou ao menos sinta/ Isto no coração.
Esta pequena felicidade é o que suporta Pessoa nos momentos mais difíceis. Como ele, nós também em momentos recordamos a nossa infância, principalmente quando na nossa vida adulta nos encontramos em dificuldades - a infância, sobretudo a infância, é um porto seguro para as inseguranças dos adultos. É na infância que se define o mais básico dos princípios, valores e traves mestras da nossa personalidade e das nossas crenças.
Veja-se como Pessoa racionaliza o facto da emoção o confortar - ele não se limita a reconhecer que a emoção o conforta, mas associa a esse conforto pobre a realidade de ele ser um "enigma" e uma "visão". Para Pessoa a constatação de um facto não se fica apenas por essa mesma constatação e isso revela a sua necessidade permanente de racionalizar, de manter o controlo da sua mente e do que o rodeia. Esta necessidade de controlo absoluto - que se revela em todas as mentes racionais - é sinal óbvio dessa mesma infância perdida. É o pequeno rapaz que sentiu todo o seu mundo perder-se subitamente que tenta, enquanto adulto, racionalizar tudo à sua volta, de maneira progressivamente mais desesperada.
A memória visual de Pessoa é activada pelo movimento das crianças, sobretudo pelos sons. A memória humana guarda eventos, muitas das vezes, relacionando-os com os sentidos (cheirar algo pode activar a nossa memória, assim como ver algo, ou sentir algo com as mãos). Neste caso é o som que activa a memória de Pessoa. Mas vemos que a actividade das crianças activa em Pessoa uma alegria e não propriamente uma memória imediata.
E toda aquela infância/ Que não tive me vem,/ Numa onda de alegria/ Que não foi de ninguém.
A razão porque é actividade uma "alegria" e não uma "memória imediata", tem a ver com aquela ambivalência de que falávamos: a infância de Pessoa foi feliz e infeliz, e ele não pode lembrar-se dela sem esquecer estes dois lados da mesma. No caso da 2.ª estrofe, Pessoa tira uma alegria de uma infância que não teve, precisamente porque a sua própria infância não foi completamente feliz. Não o foi completamente, mas também não o foi totalmente infeliz. É esta réstea de felicidade, da vida até aos 6 anos, que de certo modo torna Pessoa são, que lhe permite lembrar um pouco da felicidade infantil. É a partir deste pouco que Pessoa extrapola o resto - este pouco serve-lhe para imaginar uma "infância totalmente feliz". É esta "memória projectada" que é dele, quando ele olha para as crianças. Ele imagina assim como poderia ter tido uma infância totalmente feliz e faz desta projecção a sua realidade momentânea.
Por isso ele diz que a memória "não foi de ninguém". É uma memória construída, projectada a partir de uma outra memória parcial.
Se quem fui é enigma,/ E quem serei visão,/ Quem sou ao menos sinta/ Isto no coração.
Esta pequena felicidade é o que suporta Pessoa nos momentos mais difíceis. Como ele, nós também em momentos recordamos a nossa infância, principalmente quando na nossa vida adulta nos encontramos em dificuldades - a infância, sobretudo a infância, é um porto seguro para as inseguranças dos adultos. É na infância que se define o mais básico dos princípios, valores e traves mestras da nossa personalidade e das nossas crenças.
Veja-se como Pessoa racionaliza o facto da emoção o confortar - ele não se limita a reconhecer que a emoção o conforta, mas associa a esse conforto pobre a realidade de ele ser um "enigma" e uma "visão". Para Pessoa a constatação de um facto não se fica apenas por essa mesma constatação e isso revela a sua necessidade permanente de racionalizar, de manter o controlo da sua mente e do que o rodeia. Esta necessidade de controlo absoluto - que se revela em todas as mentes racionais - é sinal óbvio dessa mesma infância perdida. É o pequeno rapaz que sentiu todo o seu mundo perder-se subitamente que tenta, enquanto adulto, racionalizar tudo à sua volta, de maneira progressivamente mais desesperada.
Orientação de Leitura "Não sei se é sonho, se realidade"
1. Primeira parte – primeira estrofe; segunda parte – segunda e terceira estrofes; terceira parte – quarta estrofe.
2. Na primeira parte, o sujeito poético apresenta a hipótese de ser possível a concretização do sonho.
2.1. Orações condicionais; a utilização repetida do advérbio de dúvida “talvez”; o uso do conjuntivo “dêem”.
2.2. O poema inicia-se com a 1ª pessoa do singular, que traduz a reflexão pessoal, mas ainda na 1ª estrofe, o sujeito poético passa a utilizar a 1ª pessoa do plural que generaliza o âmbito da reflexão àqueles que sonham, sem deixar o sujeito de estar implicado nessa categoria. Contudo, essa 1ª pessoa do plural marca a passagem para a reflexão filosófica, ontológica, passagem que é evidenciada pelo uso da 3ª pessoa em expressões como “só de pensá-lo cansou”. No final do poema, retoma-se o uso da 1ª pessoa do plural, generalizador e aglutinador de sujeito poético + homens.
2.3. A ilha é a representação do sonho. Ligada a esta representação do sonho está a ideia de felicidade, de paraíso alcançado, na terra de “suavidade”, com palmares, áleas, sombras e sossego onde a vida é jovem e o amor sorri.
3. Conjunção coordenativa adversativa “mas”.
3.1. É anulada já que, uma vez realizado, o sonho deixa de o ser, logo, não se concretiza.
4.1. O poeta conclui que não é com sonhos longínquos, nem com objectivos distantes que a felicidade se encontra, pois aquilo que procuramos está dentro de nós mesmos.
4.2. “É em nós que é tudo”. Esta afirmação coloca na primeira linha do ser a procura de si mesmo. No entanto, também a procura do que está para além, a distância, o longe, é tema fundamental nesta poesia.
5. aquela – sonho; essa – distância; nesta – realidade. O sonho era a distância, o “ali”, “aquela terra”, “essa terra”; uma vez atingido é a realidade, “nesta terra” onde “o mal não cessa, não dura o bem”.
5.1. O poeta começou por colocar como possibilidade a realização do sonho; depois anula essa hipótese, considerando que uma vez realizado, o sonho deixa de o ser; finalmente, conclui que não é necessário fugir para o sonho, porque aquilo que procuramos está dentro de nós mesmos.
6. Binómio sonho/ realidade
7. A utilização da regularidade métrica (versos de 9 sílabas), da rima, das repetições, das aliterações, da interrogação são os processos que mais contribuem para a musicalidade do poema.
2. Na primeira parte, o sujeito poético apresenta a hipótese de ser possível a concretização do sonho.
2.1. Orações condicionais; a utilização repetida do advérbio de dúvida “talvez”; o uso do conjuntivo “dêem”.
2.2. O poema inicia-se com a 1ª pessoa do singular, que traduz a reflexão pessoal, mas ainda na 1ª estrofe, o sujeito poético passa a utilizar a 1ª pessoa do plural que generaliza o âmbito da reflexão àqueles que sonham, sem deixar o sujeito de estar implicado nessa categoria. Contudo, essa 1ª pessoa do plural marca a passagem para a reflexão filosófica, ontológica, passagem que é evidenciada pelo uso da 3ª pessoa em expressões como “só de pensá-lo cansou”. No final do poema, retoma-se o uso da 1ª pessoa do plural, generalizador e aglutinador de sujeito poético + homens.
2.3. A ilha é a representação do sonho. Ligada a esta representação do sonho está a ideia de felicidade, de paraíso alcançado, na terra de “suavidade”, com palmares, áleas, sombras e sossego onde a vida é jovem e o amor sorri.
3. Conjunção coordenativa adversativa “mas”.
3.1. É anulada já que, uma vez realizado, o sonho deixa de o ser, logo, não se concretiza.
4.1. O poeta conclui que não é com sonhos longínquos, nem com objectivos distantes que a felicidade se encontra, pois aquilo que procuramos está dentro de nós mesmos.
4.2. “É em nós que é tudo”. Esta afirmação coloca na primeira linha do ser a procura de si mesmo. No entanto, também a procura do que está para além, a distância, o longe, é tema fundamental nesta poesia.
5. aquela – sonho; essa – distância; nesta – realidade. O sonho era a distância, o “ali”, “aquela terra”, “essa terra”; uma vez atingido é a realidade, “nesta terra” onde “o mal não cessa, não dura o bem”.
5.1. O poeta começou por colocar como possibilidade a realização do sonho; depois anula essa hipótese, considerando que uma vez realizado, o sonho deixa de o ser; finalmente, conclui que não é necessário fugir para o sonho, porque aquilo que procuramos está dentro de nós mesmos.
6. Binómio sonho/ realidade
7. A utilização da regularidade métrica (versos de 9 sílabas), da rima, das repetições, das aliterações, da interrogação são os processos que mais contribuem para a musicalidade do poema.
Análise de Imagem
Comenta o quadro (150-200 palavras) que se segue à luz das afirmações de Fernando Pessoa:
Miguel Yoco, O Teatro Íntimo do Ser, 1986
"Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas."
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Fernando Pessoa
Poema "Leve, breve, suave" - Fernando Pessoa
Leia, atentamente, o texto apresentado:
Leve, breve, suave
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.
Nunca, nunca, em nada,
Raie a madrugada,
Ou ´splenda o dia, ou doire no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.
Leve, breve, suave
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.
Nunca, nunca, em nada,
Raie a madrugada,
Ou ´splenda o dia, ou doire no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.
Pessoa, Fernando, Poesias
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Explique de que forma as palavras do primeiro verso traduzem a beleza do canto.
2. O eu refere-se à fugacidade do momento de encanto.
2.1. Que verso melhor o traduz?
2.2. Explique o valor das formas verbais e da pontuação no verso que escolheu em 2.1.
3. O que quebrou esse momento de encanto? Justifique com exemplos do texto.
4. Identifique que sentimentos experimenta o eu poético na segunda estrofe.
5. Relacione a repetição de vocábulos e de sons com a expressão desses sentimentos.
Análise poema - Fernando Pessoa
Leia, atentamente, o texto a seguir transcrito.
Em toda a noite o sono não veio. Agora
Raia do fundo
Do horizonte, encoberta e fria, a manhã.
Que faço eu no mundo?
Nada que a noite acalme ou levante a aurora,
Coisa séria ou vã.
Com olhos tontos da febre vã da vigília
Vejo com horror
O novo dia trazer-me o mesmo dia do fim
Do mundo e da dor –
Um dia igual aos outros, da eterna família
De serem assim.
Nem o símbolo ao menos vale, a significação
Da manhã que vem
Saindo lenta da própria essência da noite que era,
Para quem,
Por tantas vezes ter sempre ’sperado em vão,
Já nada ’spera.
Fernando Pessoa, Poesias, 15.ª ed., Lisboa, Ática, 1995
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Caracterize os momentos temporais representados na primeira estrofe do poema.
2. Refira um dos sentidos produzidos pela interrogação «Que faço eu no mundo?» (v. 4).
3. Atente nos três primeiros versos da terceira estrofe. Explicite, sucintamente, a relação entre a «noite» e a «manhã» estabelecida nos versos 14 e 15.
4. Tendo em conta todo o poema, identifique duas das razões do sentimento de «horror» referido no verso 8.
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