Tópicos de Resposta - Poema de Álvaro de Campos



1. O sujeito poético afirma no primeiro verso que não é cansaço aquilo que sente, reiterando essa afirmação ao longo do poema. No entanto, e talvez um pouco paradoxalmente, refere que a desilusão se lhe “entranha na espécie de pensar”, sublinha a monotonia da vida (“é a mesma coisa variada em cópias iguais”), exprime a angústia perante o mistério e a indefinição que perpassam nesse “falso cansaço”; finalmente aceita que, “porque ouve e vê”, o estado em que se encontra é de cansaço: “Confesso: é cansaço!…” Assim, pode-se afirmar que, progressivamente, o sujeito poético se deixa envolver/dominar por uma letargia, um estado de cansaço e desistência, que o afasta do mundo.

2. Entre o sujeito poético, os outros e o mundo há um distanciamento, decorrente da incapacidade de relação; o único ponto comum é o facto de todos existirem: “É eu estar existindo/ E também o mundo”. Os outros, os “cegos que cantam na rua”, são apenas aqueles que o sujeito poético observa, mas com quem não se relaciona.

3. O parênteses constitui um momento em que o sujeito poético abandona o tom reflexivo, se volta para o exterior e o vê como um “formidável realejo”. O parênteses é como que um oásis num texto de características claramente negativas, uma vez que é o próprio sujeito poético que lhe confere uma conotação positiva. Simbolicamente, poder-se-ia afirmar que a felicidade só é possível para quem é “cego”, ou seja, para quem não vê a verdadeira realidade do mundo.

4. A primeira estrofe inicia-se com a repetição do advérbio de negação “não” empregue numa frase reticente, o que revela uma certa indefinição. O discurso assume um tom claramente metafórico – (“domingo às avessas/Do sentimento,/Um feriado passado no abismo...”), terminando a estrofe também com uma frase reticente. O conjunto destes recursos expressivos, aliado à repetição anafórica presente nos versos 2 e 4, traduz a tentativa de definir o estado de espírito que domina o sujeito poético.

5. Este poema integra-se na fase abúlica de Álvaro de Campos, pelo que revela de incapacidade de viver a vida, pelo que transmite de tédio, de uma certa desistência perante o mundo e os outros. Nada motiva o sujeito poético, nada lhe interessa, tudo se resume a um “supremíssimo cansaço”.

Tópicos de resposta


Poema - Ocidente - Mensagem


1.1. O sujeito da forma verbal “Desvendámos” é um sujeito plural que exprime o conjunto do povo português, agente das Descobertas marítimas a ocidente.


1.2. O sujeito poético afirma que a obra dos Descobrimentos portugueses foi uma aventura conjunta do homem – “o Acto” – e de Deus – “o Destino”. Assim, foi necessário que a mão de Deus erguesse “o facho trémulo e divino”, para que o homem fosse iluminado e pudesse afastar “o véu” que ocultava o desconhecido. Este acto de descoberta foi protagonizado pelo corpo e alma do homem português – “alma a Ciência e corpo a Ousadia” – ou seja, fruto da ciência e da coragem, respectivamente.

2.1. O imperfeito do conjuntivo “Fosse”, semanticamente hipotético, exprime a série de hipóteses inerentes às Descobertas: o Acaso? a Vontade? um Temporal? Mas fosse como fosse, “Desvendámos” com a ajuda divina, sendo Deus a alma e Portugal o corpo.

2.2. O recurso às maiúsculas confere autonomia, valor e legitimidade a cada uma das hipóteses levantadas: o “Acaso” é a providência divina, a “Vontade” é a intenção do homem e o “Temporal” representa os caprichos da Natureza.

3. O poema “Ocidente” integra-se na segunda parte da Mensagem, intitulada “Mar Português”,
que, na estrutura triádica da obra, representa os heróis e os feitos das Descobertas, revelando a dimensão mítica e heróica da conquista do mar – “Possessio Maris” é a expressão latina em epígrafe. Torna-se, assim, lógico que as referências contidas no poema “Ocidente” só possam ser entendidas na lógica da posse do mar, das Descobertas.


Excerto de "Felizmente Há Luar!"



1. O excerto apresentado faz parte do Acto II, o acto do antipoder, representado por Matilde, que, neste excerto, denuncia a arbitrariedade do poder e todo o conluio perpetrado para levar à condenação ilegítima de Gomes Freire. O padre e Beresford são as figuras do poder hipócrita e discricionário.

2. O discurso do padre assenta em estereótipos de um falso e demagógico cristianismo que lhe serve de justificação para actos ilícitos. As certezas inabaláveis do poder levam o padre a afirmar “com indubitável certeza” que houve um “louco e detestável projecto de estabelecer um governo revolucionário” (atente-se na dupla adjectivação de conotação negativa). As ideias maquiavélicas, segundo as quais os meios justificam os fins – “(...) todo o bem nos vem de Deus, sejam quais forem os meios de que para isso se sirva” –, adulteram a essência do espírito cristão, não sendo consonantes com uma figura da Igreja.

3. Matilde reage de forma indignada, perplexa e exaltada: ela não consegue conceber uma condenação sem julgamento e, muito menos, a existência de um Deus feito à semelhança “daqueles” homens que desvirtuam a Sua verdadeira imagem. Para Matilde, o verdadeiro Deus é outro, é Aquele a quem ela suplica a vida do seu homem, oferecendo a sua em troca, e pedindo-lhe uma morte digna.

4. Pelo exposto na resposta anterior, o discurso de Matilde encerra grande emotividade. A exclamação inicial, juntamente com a série de perguntas retóricas, exprime a indignação e a dor de Matilde, no seu discurso vincadamente apelativo.

5. Beresford revela-se em toda a peça um homem cínico e calculista. Neste excerto, essas facetas estão bem presentes quando a personagem se refere às vantagens que pode obter com a morte de um homem. Este calculismo frio e maquiavélico leva-o a encerrar o seu discurso com a tirada “Não há mais nada a considerar, minha senhora”.

Excerto de Felizmente Há Luar!


Depois de leres atentamente o texto que se segue, responde de forma correcta e precisa às questões apresentadas. (pg.98-100)


PADRE
(Lendo um papel)
Ordem dos principais da Patriarcal de Lisboa para acções de graças pela descoberta da conjuração Nos Primarii Presbiteri, Et Diaconi Sanctae Lisbonensis Ecclesiae Principales Sede Patriarchali Vacante.

Tendo chegado ao nosso conhecimento, com indubitável certeza, que houve insensatos tão temerários e atrevidos que ousaram formar o louco e detestável projecto de estabelecer um governo revolucionário e conhecendo que todo o bem nos vem de Deus, sejam quais forem os meios de que para isso se sirva, claro fica que a Ele devemos dirigir as nossas acções de graças. E por isso havemos por bem ordenar:

(Entram mais populares que se colocam entre Matilde de Melo e Beresford, escondendo este último)

Que no dia domingo, em todas as paróquias deste Patriarcado e igrejas dos Conventos Regulares, se cante, ou reze donde se não pode cantar, depois da hora de Noa, a missa votiva de Nossa Senhora, pro Gratiorum Actione, ajuntando-lhe, no fim, o hino Te Deum Laudamus com o Santíssimo Sacramento exposto; dizendo-se, igualmente, neste dia, em todas as missas, a oração pro Gratiorum Actione.

MATILDE
Mas eles ainda não foram julgados! Que espécie de Deus é o vosso que condena antes de ouvir? Que gente sois, senhores, que Reino é este em que tive a triste sorte de nascer?
Sr. Marechal: quanto vale, para vós, a vida dum homem?


(O padre, sempre seguido do sacristão tocando uma campainha, afasta-se e sai pela esquerda, enquanto os populares se sentam em círculo no chão e começam a comer. Beresford responde, já de fora do palco.)

BERESFORD
De que homem, minha senhora?

MATILDE
De qualquer homem.

BERESFORD
Depende do seu peso, da sua influência, das vantagens ou dos inconvenientes que, para mim, resultem da sua morte.

MATILDE
E nada mais?

BERESFORD
Não há mais nada a considerar, minha senhora.

Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar!, Areal Ed.



1. Situa o excerto na globalidade da obra a que pertence e refere a sua funcionalidade.

2. Indica de que forma o discurso do padre é revelador de ideias maquiavélicas demagógicas.

3. Explica a reacção de Matilde ao anúncio proferido pelo padre.

4. Atenta na primeira fala de Matilde e caracteriza a linguagem como elemento denunciador da emotividade da personagem.

5. Indica os traços do carácter de Beresford a partir da sua resposta a Matilde.

Poema de "Mensagem"

Ocidente
Com duas mãos – o Acto e o Destino –
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.


Fosse a hora que haver ou a que havia
A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.


Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.


Fernando Pessoa, Mensagem


1. “Desvendámos.” (v. 2)
1.1. Identifica o sujeito da acção enunciada.


1.2. Refere de que modo o sujeito da acção cumpriu o seu objectivo.

2. Atenta no primeiro verso da segunda e terceira quadras.
2.1. Indica o valor semântico da forma verbal “Fosse”.


2.2. Explica o emprego das maiúsculas na enumeração do verso 9.

3. Integra este poema na estrutura da Mensagem, justificando devidamente a tua resposta.

Poema de Álvaro de Campos




Depois de leres atentamente o texto que se segue, responde de forma correcta e precisa às questões apresentadas.



Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...



Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.



Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta –
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...



Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.



(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)



Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...



Álvaro de Campos, in Poesias, Ed. Ática






1. Caracteriza, apoiando-te em expressões textuais, a evolução do percurso emocional do sujeito poético ao longo do poema.
2. Explicita o tipo de relação que se estabelece entre o sujeito poético, os outros e o mundo.
3. Refere uma interpretação simbólica possível para o conteúdo do parênteses.
4. Indica os recursos expressivos presentes na primeira estrofe e comenta a pertinência do seu emprego.
5. Integra este poema numa das fases poéticas de Álvaro de Campos, justificando.

Exercícios - pergunta B




“ A Mensagem é toda ela um acto de paixão pela pátria, que a confunde com a aspiração de um povo, a passar além de si e dar ao mundo novos mundos que só a inteligência poética pode achar.”


Silvina Rodrigues Lopes




Comente o excerto transcrito, num texto expositivo-argumentativo de 80 a 120 palavras, tendo em conta o estudo realizado do poema pessoano, não se esquecendo de referir alguns poemas que consolidem a sua resposta.




Com base nos conhecimentos que possui da obra camoniana Os Lusíadas, redija, para cada um dos seguintes tópicos, um parágrafo, com um mínimo de 40 palavras, que pudesse ser inserido num sítio da Internet:
- a mitificação do herói;
- o desalento do Poeta.



Na carta a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa afirma, referindo-se a Caeiro: "… aparecera em mim o meu Mestre."

Num texto com 80 a 120 palavras, aprecie esta afirmação, apoiando-se em poemas de Caeiro que a possam justificar.




Na carta a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa refere "E assim fiz o Opiário, em que tentei dar todas as tendências latentes do Álvaro de Campos, conforme haviam de ser depois reveladas, mas sem haver qualquer traço de contacto com o seu mestre Caeiro".

Fazendo apelo à sua experiência de leitura, apresente os "ensinamentos" do mestre Caeiro aos seus "discípulos" Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Desenvolva a sua reflexão num texto bem estruturado, de 80 a 120 palavras.


O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada -
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
(Álvaro de Campos)

Partindo da sua experiência de leitura, identifique o traço de poesia deste heterónimo de Fernando Pessoa a que atribui maior importância. Fundamente a sua resposta, aludindo a poemas lidos, num texto bem estruturado, com cerca de 80 a 120 palavras.
Partindo da afirmação transcrita, elabore um texto expositivo-argumentativo de 80 a 120 palavras em que refira os aspectos fundamentais, a nível temático, da poética de Ricardo Reis.
“Reis procura simplesmente aderir ao momento presente, gozá-lo, sem nada pedir.”
Tendo em conta o estudo que fez da poesia de Ricardo Reis, comente e fundamente, num texto com cerca de 80 a 120 palavras, a afirmação que se segue:

Ricardo Reis é considerado um homem lúcido e cauteloso, que tenta construir uma felicidade relativa, um misto de resignação e de moderado gozo que não compromete a sua liberdade interior.