Poema de Álvaro de Campos




Depois de leres atentamente o texto que se segue, responde de forma correcta e precisa às questões apresentadas.



Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...



Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.



Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta –
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...



Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.



(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)



Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...



Álvaro de Campos, in Poesias, Ed. Ática






1. Caracteriza, apoiando-te em expressões textuais, a evolução do percurso emocional do sujeito poético ao longo do poema.
2. Explicita o tipo de relação que se estabelece entre o sujeito poético, os outros e o mundo.
3. Refere uma interpretação simbólica possível para o conteúdo do parênteses.
4. Indica os recursos expressivos presentes na primeira estrofe e comenta a pertinência do seu emprego.
5. Integra este poema numa das fases poéticas de Álvaro de Campos, justificando.

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