Sugestão de Correcção Poema "Leve, breve, suave"



1. As três palavras que iniciam o poema, três adjectivos que concorrem para a descrição do “canto de ave”, contêm em si, desde logo, uma aliteração dos sons “l” e “v”, que deixam transparecer a doçura e a suavidade do canto. Além disso, semanticamente apontam para uma ideia de candura, de leveza, de harmonia, um pouco como o canto da ceifeira” que havia prendido a atenção do sujeito poético.


2.1 Embora belo e calmante, esse canto de ave que é escutado pelo sujeito poético é fugaz e efémero, tal como se pode comprovar pelo verso: “ Escuto e passou...”


2.2 O primeiro verbo, “escuto”, encontra-se no Presente do Indicativo; já “passou”, encontra-se no Pretérito Perfeito do Indicativo, sendo que a combinação entre estes dois tempos verbais reenvia para a rapidez com que o canto se esvaiu. “Parece que foi só porque escutei/ Que parou.”, isto é, o momento de encanto desfaz-se logo que o eu intervém para ouvir. As reticências que acompanham esse verso reiteram a fugacidade desse momento, evidenciando a tristeza do sujeito poético ao ver que, no momento em que ia apreciar o canto, este cessou, cessando também as constatações que da sua audição pudessem advir.


3. Esse momento de encanto foi quebrado assim que, depois de ter experimentado a sensação quase inconsciente de ouvir o canto - “Sobe no ar com que principia/ O dia. /Escuto...”, o sujeito poético inicia o seu processo consciente de filtrar todas as sensações pelo filtro da razão, isto é, é-lhe impossível não intelectualizar todas as emoções. Deste modo, assim que escuta o canto (emoção/sensação), de imediato intelectualiza-o “...passou...”.


4. Nesta estrofe, o eu poético, ante a fugacidade dos momentos de encanto, experimenta sentimentos como a amargura, o desalento e a frustração.


5. A primeira evidência da inevitabilidade do peso da razão sobre o coração /sentimentos é a repetição do advérbio de negação “nunca” no verso 8, em conjugação com o pronome indefinido “nada”. Nesse “nada”, hiperbolizado pelo sujeito poético que diz, nas coisas mais simples como a madrugada, o dia ou crepúsculo, não consegue apenas sentir, pode-se evidenciar igualmente uma aliteração dos sons “n”, no verso 8 e “i”, nos versos 10 e 11. Essas repetições dão ênfase ao estado derrotista e conformado do sujeito poético pela perda do gozo instintivo do prazer dos sentidos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito útil, bom trabalho!