Génese; contextualização; saudosismo e o épico-lírico da obra
A Mensagem, publicada em 1934, é uma colectânea que reúne poemas de carácter nacionalista e sebastianista.
Na opinião do poeta, havia-se perdido a identidade pessoal, os feitos heróicos perderam-se com o tempo e só já restava a memória. Então, nada melhor que recuperar um mito para fazer ressurgir das cinzas uma nação ("O mito é o nada que é tudo", em "Ulisses").
Pessoa acreditava no destino messiânico de Portugal e acreditava também que o saudosismo que preenchia os corações dos portugueses poderia ser o ponto de partida, a motivação para a tentativa de recuperação de uma imagem que morrera com o passado.
Camões cantara os feitos gloriosos dos portugueses, na época dos Descobrimentos; Fernando Pessoa pretendeu essencialmente enobrecer a maneira grandiosa que está subjacente à realização dos acontecimentos que engrandeceram a História nacional. Nesta obra, são enunciados factos históricos, exaltados de uma maneira que faz ecoar a epopeia, contudo, sentidos por um "eu" que impregna os poemas de uma subjectividade misturada de uma simbologia que não permite uma interpretação ingénua dos mesmos. Assim, a Mensagem, apesar de possuir um carácter lírico, apresenta uma faceta épica, carácter épico-lírico, diferente da de Camões (que cantava os feitos gloriosos de um herói), pois o poeta modernista enaltece a heroicidade do ser humano, através da espiritualização progressiva, tirando partido do mito sebastianista. Através do sonho, poder-se-ia construir um império perfeito e espiritual que teria como finalidade a construção da paz universal.
A hipótese de salvação e regeneração que D. Sebastião representa para o povo português é a base desta obra, pois é a partir do mito que se deve tentar transformar a realidade.
Já aquando da sua participação na revista A Águia, Fernando Pessoa se revelava sebastianista, prevendo até o aparecimento de um Super-Camões, cantor do Quinto Império, que seria um Super-Portugal. Este Quinto Império, já vaticinado por Padre António Vieira, profeta e visionário, não se trata de um império terreno, mas sim espiritual. Pessoa opõe ao sebastianismo passadista e tradicional um outro para o futuro, concretamente virado para a construção de um império da língua e cultura portuguesas ("Minha pátria é a língua portuguesa", Fernando Pessoa).
O que Fernando Pessoa realiza, através da Mensagem, é um apelo para que se entenda que os feitos do passado não se extinguiram - na sua essência, existe uma força propulsora cujo dinamismo é a própria natureza humana, que se projecta sempre que há um ideal (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, em “O Infante”).
A literatura, para o poeta, assumia um papel importantíssimo, capaz de influenciar várias épocas e transmitir civilização. Como tal, o autor da Mensagem acreditava que, através da sua produção literária, realizaria o seu grande objectivo: arrancar Portugal do século XX, da estagnação que o caracterizava, lançando no país a agitação que permitiria ao português sentir novamente a ânsia da sua grandeza esquecida e vivida numa nostalgia sem brilho nem esperança. O importante é ser-se genuíno e que, como os portugueses do século XV; se contribua para a construção de um império unificador e cultural que se encontra para além do material A missão dos portugueses ainda não está cumprida, isto é, a conquista do mar não foi suficiente; há que sonhar novamente para se cumprir Portugal (“Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. / Senhor, falta cumprir-se Portugal!”, em “O Infante”).
6 comentários:
Muito obrigada, este blog tem informações essenciais! :D
Muito bom! Esclarecedor.
Muito obrigada pela ajuda. Estava a procurar resumos e análises sobre a "Mensagem" para dar uma ajuda à minha filha, e tive a sorte de entrar no seu blog. Bem haja.
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