Análise de Felizmente Há Luar!

Matilde
Ninguém me ouve? Estarão cegos e surdos para não compreenderem o que se passa à vossa volta?

1º Popular
(Dando uma notícia importante de que se esquecera)

Só agora me lembro duma notícia que os vai espantar.


(Ri-se)
E em que não vão acreditar!

(Ri-se)
O Vicente, lembram-se do Vicente? Foi feito chefe de polícia. Vi-o hoje, fardado, seguido por dois esbirros! É verdade! Juro-lhes que é verdade! Olhou para mim como se nunca me tivesse visto. Estendi-lhe a mão e deu-me uma cacetada na cabeça!

2º Popular
Era mesmo ele?

1º Popular
Era ele, digo-lhes eu. Nunca me esqueço duma cara.

(Matilde, profundamente desanimada, começa a afastar-se do grupo e aproxima-se da esquerda do palco.)

Manuel

Não é de espantar. Deus escreve torto por linhas direitas. Não é assim que se devia dizer?

(Matilde, chorando, vai a sair pela esquerda do palco quando Manuel a chama, sem voltar a cabeça e sem fazer um gesto.)

Senhora!

(Matilde estaca e volta-se para o grupo sem saber, ao certo, se a chamaram)

É consigo, senhora.

(Sempre sem voltar a cabeça e limando a faca enquanto fala)

Não se vá, assim, embora, sem levar resposta.

(Matilde volta a aproximar-se do grupo, que finge não dar por dar por ela. Os seus passos são curtos e tímidos. Não sabe porque a chamaram. Manuel prossegue, agora para Rita)

Arranja aí um caixote para ela, Rita.
(...)

Manuel
(Levanta-se e fala com ternura)

Todos aqui, sabemos quem a senhora é, e nenhum de nós é cego ou surdo...

(Observa-a com atenção)
Há quanto tempo não come, minha senhora?

(Matilde encolhe os ombros. Manuel mete a mão num saco, procura qualquer coisa que não encontra e olha para os outros. Um deles levanta-se e, com uma maçã na mão, aproxima-se de Matilde)

Coma essa maçã, Srª D. Matilde. Verá que lhe faz bem.

(Matilde recusa a maçã)

Perguntou-nos, há pouco, o que íamos fazer para libertar o general...
Insinuou mesmo que éramos responsáveis pela sua prisão, já que tínhamos fé nele...
Olhe para nós, Srª D. Matilde. Abra bem os olhos e veja quem somos e ao que estamos reduzidos.
(...)
A senhora, hoje, veio ter connosco porque não sabia para onde se havia de voltar...

(Pausa)
Mas nós passamos a vida inteira a ir ter convosco porque não temos a quem recorrer! E o que nos dão, senhores, que nos dão quando lhe batemos às portas no Inverno, com os filhos embrulhados em trapos, tão cheios duma fome que o pão, só por si, não satisfaz?

(Pausa)Cinco réis, senhora! Dão-nos cinco reis ou dizem-nos que tenhamos paciência!
Felizmente Há Luar!, Luís de Sttau Monteiro
1. Proponha uma possível interpretação para as palavras de Manuel: “Não é de espantar. Deus escreve torto por linhas direitas. Não é assim que se devia dizer?”.

2. Demonstre como Vicente é uma personagem que evoluiu ao longo da obra.

3. Apresente, fundamentando-se no excerto, três traços caracterizadores de Manuel.

4. Comente a atitude de Matilde evidenciada neste momento textual.

Quadro Síntese de Felizmente Há Luar!











Análise de "Felizmente Há Luar!"

Procede à leitura das páginas 61 a 64 da obra "Felizmente Há Luar!" de Luís de Sttau Monteiro e responde às questões:

1. Refira a importância do excerto no contexto da acção da peça.

2. Apresente uma divisão, devidamente fundamentada, do texto em partes.

3. Indique uma das funções que a iluminação cénica desempenha no excerto transcrito.

4. Explicite um aspecto da crítica de carácter político presente no diálogo entre o principal Sousa e Beresford.

5. Defina, com base no texto, cinco traços do perfil psicológico de Beresford.

Felizmente Há Luar!




Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!











Felizmente Há Luar!



Luís de Sttau Monteiro e José Saramago, com as respectivas obras Felizmente Há luar! e Memorial do Convento, recorrem à História para contarem a sua própria história.


Exponha, num texto de sessenta a cento e vinte palavras, a sua opinião sobre a perspectiva apresentada na frase supracitada.

A Acção

A acção

Breve Resumo

Um grupo de populares manifesta o seu descontentamento, nas ruas de Lisboa, face à miséria em que vive.
Um Antigo Soldado, que se encontra junto do grupo, refere a figura do general Gomes Freire como homem generoso e amigo do povo. Vicente, embora seja um elemento do povo, discorda das palavras daquele e tece comentários desfavoráveis acerca do general.
A chegada da polícia vem pôr termo a esta discussão, provocando a dispersão dos presentes.
Vicente é levado pelos dois polícias à presença de D. Miguel Forjaz, um dos três governadores do reino. Vicente, tornando-se traidor da sua classe, aceita desempenhar o papel de delator e denunciar os nomes daqueles que conspiram contra o reino.
Os governadores, D. Miguel, Principal Sousa e Beresford, tentam a todo o custo encontrar o nome de um responsável pela conspiração, responsabilidade que vai recair sobre Gomes Freire.
O general, juntamente com outros conspiradores, é executado na praça pública, em S. Julião da Barra.
A esposa do general, Matilde, e o seu grande amigo, Sousa Falcão, tentam por todos os meios ao seu alcance salvar Gomes Freire, pedindo ajuda a Beresford, aos populares, a D. Miguel e, por fim, a Principal Sousa, mas a morte de Gomes Freire de Andrade era um mal necessário às razões de Estado.

Estrutura Externa

A peça divide-se em dois actos. No interior de cada acto, não existe divisão em cenas.
Estrutura Interna – a acção dramática
Numa primeira fase, é apresentada a situação do país; surgem referências a acontecimentos anteriores que motivam, aliás, o comportamento das personagens.
É a função social do indivíduo que subjaz à construção da personagem e à sua apresentação; a história, por seu lado, surge como um conjunto de situações sem conectividade entre si; cada situação tem uma lógica intrínseca e revela-se completa. Do processo de montagem das várias situações resulta a totalidade da peça.
É de referir que os elementos físicos, paraliterários, têm um significado preciso e indispensável na construção do sentido do episódio a que se assiste - os cenários, a música, a luz, a coreografia revelam-se factores independentes na fabricação de um teatro que não pretende reproduzir uma realidade, mas, antes, suscitar uma reflexão e uma análise crítica.
A unidade da peça não reside, pois, na sequência de acções apresentadas, mas na personagem que as origina - é o general Gomes Freire de Andrade que, apesar de nunca estar presente, funciona como elemento estruturador das diversas situações que constituem os episódios a que assistimos. A peça propõe, afinal, uma reflexão sobre a dialéctica da revolução e da contra-revolução, processo que deve ser encarado numa perspectiva histórica. É a mitificação do herói, feita gradualmente pelo povo, que revelará a intenção crítica e irá conferir ao general o estatuto unificador de uma história contada pelas outras personagens.
Sintetizemos, então, os principais momentos/episódios que ocorrem em cada acto.
Primeiro acto

- o povo, vítima da miséria e da opressão, sonha com a sua salvação, motivado pela esperança que lhe inspira o general Gomes Freire de Andrade, figura que define como "amigo do povo"
- Vicente, um homem do povo, considera Gomes Freire um "estrangeirado" e tenta convencer os populares que o ouvem de que o general nunca será um aliado do povo; mais tarde, será levado por dois polícias junto do governador, D. Miguel de Forjaz, manifestando-se um traidor para com a classe social a que pertence (esta atitude valer-lhe-á a ascensão social, pois o governador alicia-o com a promessa de que lhe dará o cargo de chefe da polícia)
- D. Miguel, preocupado com a hipótese (para ele, iminente) de uma revolução, manda Vicente vigiar a casa de Gomes Freire
- Beresford, governador do reino, informa D. Miguel e o Principal Sousa de que, em Lisboa, se prepara, efectivamente, uma revolução contra o poder instituído (o seu informador é o capitão Andrade Corvo, um ex-maçon, amigo de Morais Sarmento, também maçon)
Os governadores do reino tomam a decisão de destruir o líder dos conspiradores
- Morais Sarmento e Andrade Corvo dispõem-se o denunciar o chefe da conspiração em Lisboa, mediante a intimação de D. Miguel, no sentido do cumprimento de uma "missão"
- Vicente informa os governadores (Beresford, D. Miguel e o Principal Sousa) do número de pessoas que entram em casa de Gomes Freire e anuncia a identidade de algumas; Andrade Corvo, por sua vez, revela aos governadores que são muitas as pessoas que partilham o ideal da revolução, afirmando que já tinham sido enviados emissários desta causa para a província; Andrade Corvo adianta o nome do chefe dos conspiradores: o general Gomes Freire de Andrade
- D. Miguel ordena que se prendam os conspiradores, abarcando um número significativo de pessoas; por outro lado, tenta que a sua atitude surja de forma justificada, pensando, assim, impedir a estranheza perante a sua decisão, cujo objectivo é a repressão e a eliminação de Gomes Freire (os seus argumentos baseiam-se no patriotismo e na defesa do nome e da vontade de Deus)
Segundo acto

- o acto inicia-se exactamente como o anterior, ou seja, Manuel interroga-se “Que posso eu fazer? Sim, que posso eu fazer?”; através do seu monólogo, o espectador (ou o leitor) tem conhecimento da prisão de Gomes Freire ocorrida na madrugada anterior
- a polícia proíbe os aglomerados dos populares
- Matilde exprime a sua dor e revolta face à situação do marido, o general Gomes Freire; contudo, decide intervir, de modo a conseguir a sua libertação
- António de Sousa Falcão, o "inseparável amigo" de Matilde e do general, surge como a voz que critica o poder instituído e o comportamento abusivo dos governantes, que tentam enganar o povo, mencionando o nome de Deus
- Matilde procura Beresford, a fim de interceder pelo marido; objectivo que não alcança, pois, através do diálogo com Matilde, o governador humilha Gomes Freire
- o padre dá a informação de que seria feita uma acção de graças em todas as paróquias e igrejas dos conventos por todos aqueles que se tinham insurgido contra o governo (esta ocorreria num domingo)
- Matilde apercebe-se da indiferença dos populares perante a situação em que se encontra Gomes Freire (na realidade, eles não têm qualquer hipótese de o ajudar; a traição a que o povo é obrigado é simbolizada na moeda que Manuel oferece a Matilde); sabe-se, entretanto, que Vicente é chefe da polícia
- António de Sousa Falcão transmite a notícia de que a situação de Gomes Freire é cada vez mais crítica (não são autorizadas visitas, encontra-se numa masmorra às escuras, não lhe permitiram escolher um advogado, descuida-se a sua higiene física e a sua alimentação)
- Matilde tenta pedir a D. Miguel que liberte o marido; o governador não a recebe
- Matilde pede ao Principal Sousa que liberte Gomes Freire; o Principal evoca "as razães do Estado" como o motivo da morte do general, apesar de Matilde o acusar de cumplicidade em relação ao destino de seu marido
- Frei Diogo, que confessara Gomes Freire, revela a sua solidariedade para com Matilde
- Matilde acusa o Principal Sousa de não adoptar o comportamento que seria de esperar de um bispo
- Sousa Falcão informa a esposa do general de que já havia fogueiras em S. Julião da Barra, para onde Gomes Freire tinha sido levado, o que leva Matilde a implorar, de novo, ao Principal Sousa a vida do marido
- Matilde tenta consolar-se através da religião; depois, lançará aos pés do Principal Sousa a moeda que Manuel lhe dera
- Matilde assiste à execução do marido, vendo o seu corpo ser devorado pelas chamas, ainda que imagine que o seu espírito vem abraçá-la; profetiza uma nova vida para Portugal, simbolizada no clarão da fogueira, fruto de uma revolução que encerraria o período de ditadura

As Personagens de Felizmente Há Luar!

Caracterização das personagens

POVO
- “Pano de fundo permanente” da peça
- Personagem colectiva
- Espelha a miséria (por Vicente, página 21), ignorância e exploração de que são vítimas
- Triste, medroso, intimidado e de horizontes limitados, simbolizado
. pelo ruído dos tambores (pág. 77/78)
. pela polícia (pág. 81)
- Destaque por Manuel – “o mais consciente dos populares”; Rita; e Antigo Soldado
General Gomes Freire de Andrade
- Nunca está presente
- Figura singular, única, impar
- É acusado de ser conspirador, mas é vítima de uma conspiração, sendo condenado inocentemente
- A sua morte é o primeiro passo para a liberdade do povo português
- O seu retrato é delineado pelas outras personagens:
Antigo Soldado
- Faz de Gomes Freire personificação da liberdade (pág.18/19) e da justiça, mostrando sentimentos de respeito e admiração (pág.20) – figura impar, única que se destaca no contexto onde se move (pág.22)
Manuel
- Na boa de Manuel, pressente-se a esperança de que Gomes Freire vai libertá-los da opressão e do terror em que estão mergulhados, e edificar uma sociedade mais justa e mais livre (pág.21)
Vicente
- Esta personagem diz que é um “estrangeirado” (pág.23) e que pertence a outro grupo social, mais privilegiado (pág.21)
Governadores
- Para estes, o general apresenta um incomodo que convém eliminar (pág.95/96)
- Odiado por D. Miguel (pág.72)
- Principal Sousa receia os valores que Gomes Freire embutiu no povo
- Beresford teme perder o lugar e os privilégios (pág.63)
- Segundo D. Miguel reúne todos os “requisitos” (pág.71)
Matilde
(acto II)
- Homem lúcido e inteligente (pág.95)
- Corajoso, porque enfrenta os perigos (pág.91 e 96)
- Discreto, porque nunca se serviu do seu estatuto para influenciar o povo (pág. 87)
Sousa Falcão
- “Franco, aberto e leal”, oposto de D. Miguel Forjaz
- Corajoso (porque morre pelos seus ideias, sem se “vender”) (pág.137)
Frei Diogo de Melo
- Pela boca deste, o general é um santo (pág.126)
Proximidade com Cristo
- “Crucificar” (pág.70): para designar a morte
- Invocação das 30 moedas (pág. 110 – 120) (quantia pela qual Cristo foi entregue por Judas) – é o apego ao dinheiro que leva á denúncia de Gomes Freire
- Protesto de Matilde com alusão à condenação de Cristo (pág.122)
- Matilde refere a relação íntima do general com o criador (pág.130)
- Todas estas referências remetem para a inocência de Gomes Freire
Matilde de Melo
- É a “companheira de todas as horas” do general
- Personagem individualizada
- Figura central do acto II, onde se mostra apaixonada e corajosa á altura do marido (pág.91)
- Não desanima (pág.121)
- Confessa que também partilha os mesmos ideais do marido (pág.90)
- Resume a vida (no diálogo com Beresford) sublinhando as diferenças entre o “antes” e o “depois” de ter conhecido Gomes Freire (pág. 91/92) e orgulhando-se de tudo que aprendera com ele
- O tom desafiador que emprega ao se dirigir ao marcheal revela o seu desespero (pág.94)
- É a personificação de todos os sacrifícios que as mulheres fazem para manter a família unida (pág.94)
- Perante a indiferença de Beresford, acaba por suplicar uma morte digna para o marido (pág.97/98)
- É a voz da consciência junto dos governantes (pág. 88) obrigando-os a confrontarem-se com a sua presença e assumir os seus actos (pág.101)
- Acusa o povo (pág.101), embora compreenda as suas razões
- Com o principal Sousa, revela inteligência e poder de argumentação conseguindo confundir o prelado e fazer-lhe verdadeiros ensinamentos da doutrina cristã (pág.129) chega mesmo a rogar-lhe uma praga (pág.129) para o atormentar para sempre
- Quando percebe que não pode fazer nada, vira-se para Deus invocando o Juízo Final que encerra a condenação de todos que conspiram contra Gamos Freire (pág.135)
- Imagem viva da dor e da alucinação (quando surge a falar sozinha)
- Á medida que o tempo passa as circunstâncias lhe são adversas, mesmo depois de ter perdido o controle vai ganhando força “crescendo em palco”, acabando mesmo por aparecer de “verde” – esperança – ao contrario de Sousa Falcão, que está de luto (pág.136)
- Destaca-se dos que a rodeiam (como o marido)
- É caridosa (pág.101)
- É um ser excepcional que vive no mundo da hipocrisia, ganância e falta de solidariedade – por isso tenta convencer-se a agir de maneira diferente (pág.84)
- O desespero e o rancor levam-na a por em causa a conduta do marido pois sente que é vã (pág.84)
- Sente-se sozinha (pág.85)
- Encerra a peça:
- Despede-se do marido convicta da sua inocência (pág.139)
- Sente-se junto dele, apesar da distância física
- Recolhe a vontade de Gomes Freire (pág.137)
- Retoma o título (pág. 140)
Manuel
- Símbolo da inteligência e da capacidade de apreciação critica de um povo que, apesar de ser mantido na ignorância pelas classes dirigentes, consegue aperceber-se da situação da sua classe e do país (pág. 16)
- Sabe que é pouco importante, sendo bem vísivel a sua impotência perante a eventual resolução dos problemas em causa (pág.15 e 77)
- Espelha o desânimo, a falta de energia para lutar contra o regime (pág. 109)
- Está consciente das desigualdades sociais do seu tempo (pág.105/107)
- Tem uma enorme dignidade e respeito pela dor alheia
- É solidário, mesmo não tendo nada para oferecer a Matilde, ele põe a mão no e procura algo para lhe oferecer (pág. 105 – didascália)
- O instinto de sobrevivência parece sobrepor-se a todos os sentimentos
Rita
- Aparece no 1º acto, mas é no 2º acto que se individualiza e adquire mais relevo
- Presencia a prisão e a violência exercida sobre Gomes Freire (pág. 82)
- É solidária com Matilde na comunhão (pág. 82/83) e no gesto final (pág.110). Esta solidariedade nasce da comunhão de sentimentos – ambas sabem como o regime pode afectar a vida familiar (Matilde: apoia as opiniões do marido, mas contrariada (pág. 85) Rita: receava-se em tal situação (pág.82).
Antigo Soldado
- Tem um papel importante na acção, uma vez que combateu no regimento de Gomes Freire o que:
- Confirma o percurso militar do herói na peça
- Salienta o doce sabor da liberdade invocado na cantiga (pág. 18)
- Não tem nome
- Simboliza, talvez, todos os homens que combateram por senhores que nem os conhecem e por quem são apenas um numero, confirmando a critica de Vicente a 1 regime que não valoriza o povo que serve nos exércitos (pág.22)
- Personaliza o desalento, pessimismo e a decepção do povo que, uma vez mais, adiada a possibilidade de mudança (pág. 80)
António de Sousa Falcão
- Parece estar constantemente presente na vida do casal já que acompanhara a morte do filho (pág.115) e aconselhara-os a não voltar a Portugal e, por fim, não abandona Matilde
- É o “amigo das coisas importantes e das pequenas coisas” (pág.115)
- Mostra-se profundamente dilacerado com a tragédia que se adivinhara (pág.86)
- Nutre uma grande admiração pelo general mas, ao contrario de Matilde, esta constantemente dominado pela cobardia e pelo desânimo pois tem a consciência do modo como a sociedade funciona (pág.88) procurando convencer Matilde da inutilidade da luta (pág.88)
- A postura combativa de Matilde, empresta-lhe algum alento (pág.89) decidindo estar ao lado de Matilde, toma consciência do seu dever (pág.89)
- Revolta-se contra as palavras de D. Miguel exteriorizando a sua fúria numa tripla imprecação e arrisca-se mesmo a desafiar o nobre (pág.119)
- É uma das personagens com mais densidade psicológica
- Descobre que é cobarde porque não tem força para lutar pelas suas ideias (pág. 136 e 137)
- Calar-se é o preço que tem de pagar para se manter vivo e “livre” (pág.137)
- Só foi verdadeiro consigo próprio quando repensou a situação
Governadores do Reino
Governadores
- Personagens-tipo, representantes do poder
- Compõem o Conselho de Regência
- São o cérebro da conjura (porque “escolhem (alguém) que valha a pena crucificar” sem provas concretas da sua culpa (pág.70)
- Aproximam-se do carácter vil (ordinário) e mesquinho, cada um tem diferentes interesses e invocam razões diferentes para a morte de Gomes Freire
D. Miguel Pereira Forjaz
- Representa a Nobreza
- É o primeiro a proferir o nome do general (quando interroga Vicente - pág.34) e o primeiro a manifestar desagrado por Gomes Freire, não respeitando sequer laços familiares
- Incube Vicente de espiar a casa de Gomes Freire (pág.38) a troco de um “posto de polícia”
- É um absolutista convicto
- O seu desejo é manter o estado das coisas – uma sociedade perfeitamente estratificada (pág.69)
- Receia uma eventual revolução por povo por influencia d revolução francesa e seus ideais de revolta de Pernambuco, no Brasil (pág. 37 / 43)
- Defende acaloradamente a distinção entre classes entre classes, porque acredita que cada homem esta sujeito a um determinismo de ordem social e que as aparências definem os homens, existindo inevitavelmente uma barreira a separar as classes dominantes das dominadas (pág.69)
- Prepotente, afastado do povo, por isso teme a popularidade do general que pode vir a afasta-lo do seu cargo (pág.70)
- Cruel e exerce o poder de forma violenta e incorrecta (pág.60)
- Sabe manipular as pessoas e situações, não olhando a meios para atingir os seus objectivos – serve-se da religião para emocionar o povo (pág.73), e serve-se da corrupção para “comprar” a denúncia (pág.65)
- É insensível, porque recusa-se a receber Matilde, ofendendo-a na resposta que lhe envia (pág.119)
- Segundo Sousa falcão é “frio, desumano, calculista” e odeia Gomes Freire, “personificação da mediocridade consciente e rancorosa” (pág.117)
- Falso cristão (pág.113)
- Frio e cruel – no final evidencia-se mais com a fase final (pág.131)
- Serve-se da execução publica para servir de exemplo para os outros mas foi inútil porque 3 anos mais tarde a revolução liberal triunfara, tirando-o do poder.
Principal Sousa
- Representa o poder da igreja e sua intervenção nos negócios do estado – principio mais atacado pelos franceses (pág.42)
- É um prelado (bispo) hipócrita que parece hesitar quando pretendem condenar Gomes Freire sem provas, mas é só para mostrar que foi convencido por outros para poder ter a sua “consciência tranquila” (pág.64) mas depois encontra razoes pessoais que o parecem tranquilizar (pág.72)
- Serve-se de um discurso eclesiástico, recorrendo a citações bíblicas que deturpa (desfigura) em função dos seus interesses recorrendo a metáforas estereotipadas (pág.36) e ao tom falsamente paternalista e compreensivo (pág.38)
- Convém-lhe manter o status quo e crê-se investido numa missão salvífica (pág.40)
- Demagogo, porque tem consciência de que o poder dos reis é injusto mas teme que o povo saia da ignorância o que poderá implicar a sua própria condenação (pág.36/37)
- Detesta Beresford, mas é incapaz de manter uma discussão seria e frontal com ele, conseguindo ultrapassar as divergências pessoais e solicitar a colaboração deste (pág.59)
- Matilde desmascara-o – acusa-o da falsidade e infâmia (má fama), a ele e a toda a sua classe social (pág.123)
- Julga-se num plano superior (pág.121) mas depois Matilde depois é que fica superior, mandando-o calar (pág.124)
- No fim parece que as acusações de Matilde fizeram eco na consciência (pág.134)
- Fica desarmado perante a coragem e sabedoria de Matilde que depois “tira a moeda do bolso” e atira-a para o chão – condenação e acentua o valor pelo qual o Principal Sousa regeu a sua vida – bens materiais.
Beresford
- Encarregue de reorganizar o exército Português representa o domínio inglês e a que Portugal estava sujeito
- Despreza o nosso país e os portugueses, procurando todas as ocasiões para humilhar o povo português (pág.55)
- Tem um espírito crítico porque está distanciado emocionalmente de um povo que não é seu assim, considera que vive “num país de intrigas e traições” (pág.63)
- Despreza o clero que trata por “seita” (pág.63)
- Não se cansa de provocar o principal Sousa usando a ironia (pág.41 e 54)
- Sorri da corrupção e da denúncia que dominam a sociedade (pág.44) mas serve-se dessas armas para aniquilar Gomes Freire agindo do mesmo ódio daqueles que critica e revelando ser um homem prático (pág.68/69)
- Critica a situação socio-económica e cultural portuguesa (pág.57) compara-a com a prosperidade inglesa (pág.56) e com a tolerância religiosa que lá se vive (pág.57)
- Segundo D. Miguel é “mercenário” (aquele que trabalha por interesse) (pág.58)
- Afirma várias vezes que o seu único interesse é o dinheiro que recebe e que a sua “estada” é um sacrifico (pág.58)
- Odeia Gomes Freire porque é um dos poucos “capaz de o destronar” (pág.64)
- Cínico e sem sentimentos – quando Matilde o procura e lhe pede para imaginar no lugar do marido (pág.93) humilhando-a, para atingir o seu homem (pág.94)
- A sua última intervenção é marcada pela arrogância e a insensibilidade que o caracterizam (é cruel) (pág.99)
Delatores
Vicente
- Única personagem que evolui, transitando de um grupo social (o povo) para o grupos dos delatores
- Astuto, é pela polícia que denuncia Gomes Freire, que lhe permitirá ascender económica e socialmente
- Personifica mais um dos “vendidos” de uma sociedade corrupta
- É um homem frustrado por ter nascido pobre, revoltado pelas diferenças sócias (pág. 27)
- Marcado pelo estigma da diferença (pág.27)
- Traidor, recorre á traição para ultrapassar a sua condição pois sabe que só pactuando com os poderosos e agindo como eles terá um lugar no mundo que inveja (pág. 24 – dialogo com policias)
- Hipócrita, tenta inspirar confiança “das gentes” (pág.25)
- Não tem escrúpulos, porque diz que só se rege pelos valores do dinheiro e da força (pág.25)
- Calculista e frio, porque diz aos policias que se fosse promovido na policia não se ia lembrar mais deles e quando vê um popular (seu amigo de rua antigamente, já não se lembra dele) (pág.103)
- Consegue ser pior do que as forças de ordem, porque as forças de ordem actuam por obediência, respeitando uma hierarquia estabelecida, ele, ao contrário, colabora voluntariamente com o poder estabelecido visando apenas o lucro pessoal para satisfazer a sua ambição
- Ambicioso e esperto, quando os policias lhe dizem que vai falar com um dos governadores do reino, presente que chegou a sua oportunidade de subir na vida (pág.30/31) e quando fala a D. Miguel (pág.35) e no modo como empresta dignidade á missão de vigiar o general (pág.38)

Andrade Corvo
- Serve-se de um discurso argumentativo para aliciar o colega não evidenciando quaisquer escrúpulos e vende-se facilmente (pág.47)
- Tem mais destaque do que Morais Sarmento
- Preguiçoso, serve-se da denúncia para não voltar a trabalhar (pág.45)
- Segundo Beresford: “mau oficial, ignorante”, e até “pedreiro-livre” (pág.43)
- Ganancioso e oportunista, quando regenera o seu passado de “maçon” e admite ter andado “perdido” (pág.50)
- Cobarde pois aparece “embuçado” e um adulador pois aparece uma segunda vez em cena para dizer “cá ando sempre fiel a el-rei na missão que me incumbiram” (pág.64)
- A sua presença em palco acaba no final do primeiro acto quando finalmente refere o nome que os governadores esperavam (pág.71)
Morais Sarmento
- Preocupa-se com o que vão dizer aos governadores
- Limita-se a ser testemunha (pág.48)
…Os dois…
- Simbolizam o lado do negativo do exército português, que precisava do marcheal inglês para “entrar na ordem”, opondo ao general Gomes Freire
Os dois policiais
- Simbolizam o exercício da autoridade do governo
- São “iguais a todos os polícias”, isto é, como alguém que não se distingue no meio de uma força que deve agir segundo determinados princípios
- Aparecem em cena para dispersas ajuntamentos de populares evitando, deste modo, a propagação da revolta
- Conscientes do poder, ameaçam o povo (pág.81)
- Ingénuo, porque pensavam que Vicente depois de promovido se ia lembrar deles (pág.31)

O Teatro Épico

O Teatro Épico
Foi Bertolt Brecht o teorizador do teatro épico. As suas peças revelam a doutrina do teatro épico, que procura representar o mundo e o homem como realidade em constante devir.
Trata-se de um teatro "moderno", que se opõe ao teatro aristotélico (de forma dramática), criando, então, o termo épico, sinónimo de narrativo (narra acontecimentos que envolvem o espectador).
Brecht elaborou uma tabela que representa as características de um teatro épico por contraste com um teatro de forma dramática.
Sintetizámos a tabela nos seus aspectos mais relevantes:


Um dos elementos mais marcantes do teatro épico é o chamado efeito de distanciação. Tal efeito está ligado à técnica que confere aos acontecimentos representados um "cunho de sensacionalidade", deixando estes de ser evidentes e naturais. O objectivo desta técnica de distanciamento é proporcionar ao espectador uma análise e uma crítica dentro de uma perspectiva social.
O teatro épico tem incontestavelmente uma função social, que conduz o espectador a uma apreciação crítica não apenas do que está a ser representado mas também da sociedade em que se insere. O distanciamento causa uma espécie de "efeito de alienação", desviando, assim, o público do caso narrado. Logo, uma vez não identificado com o mundo cénico, vê de fora a sua própria situação social reflectida no palco.
Através desta técnica, estuda-se o comportamento humano em determinadas situações, levando o público a tomar consciência de que tudo pode e deve ser modificado, exigindo dele a tomada de decisões.

Felizmente Há Luar!


VIDA E OBRA DE LUÍS DE STTAU MONTEIRO


Nasceu em Lisboa, em 3 de Abril de 1926, filho de um jurista e diplomata.

Com 10 anos, parte para Inglaterra, regressando em 1943, data em que o pai, o embaixador Armindo Monteiro, é demitido do cargo por Salazar.

Manterá sempre uma ligação afectiva e um fascínio por Londres.

Licenciou-se em Direito na Faculdade de Lisboa, exercendo advocacia por pouco tempo.

Parte, de novo, para Londres, torna-se corredor da Fórmula 2, dedica-se à pesca e casa-se com uma senhora inglesa.
O amigo e escritor José Cardoso Pires arrastá-lo-á para o jornalismo e para a ficção.
Estreou-se:
- com o romance Um Homem não Chora, 1960,
- e, no ano seguinte, escreveu a sua melhor obra, Angústia para o Jantar.

Dedicou-se ao teatro, sendo Felizmente há Luar!, 1961, a sua mais famosa peça.
O êxito foi tal que já se venderam 160 mil exemplares.
Sttau Monteiro recebe os primeiros ecos do êxito na cadeia do Aljube, onde se encontrava preso pela PIDE por infundado envolvimento na revolta de Beja.
Em 1971, com Artur Ramos, adapta A Relíquia de Eça de Queirós ao teatro, que é representada no Teatro Maria Matos.
Tornou-se uma figura popular quando apareceu no júri do programa televisivo A Cornélia.
Conti­nuou com a publicação da Guidinha em
O Jornal.
A gastronomia foi sempre um tema que tratou ao longo da vida em vários jornais. Escreveu ainda a telenovela Chuva na Areia.
Faleceu em 27 de Julho de 1993, quando tinha anunciado outras obras.

O Teatro Épico


Foi Bertolt Brecht o teorizador do teatro épico. As suas peças revelam a doutrina do teatro épico, que procura representar o mundo e o homem como realidade em constante devir.
Trata-se de um teatro "moderno", que se opõe ao teatro aristotélico (de forma dramática), criando, então, o termo épico, sinónimo de narrativo (narra acontecimentos que envolvem o espectador).
Um dos elementos mais marcantes do teatro épico é o chamado efeito de distanciação. Tal efeito está ligado à técnica que confere aos acontecimentos representados um "cunho de sensacionalidade", deixando estes de ser evidentes e naturais. O objectivo desta técnica de distanciamento é proporcionar ao espectador uma análise e uma crítica dentro de uma perspectiva social.
O teatro épico tem incontestavelmente uma função social, que conduz o espectador a uma apreciação crítica não apenas do que está a ser representado mas também da sociedade em que se insere. O distanciamento causa uma espécie de "efeito de alienação", desviando, assim, o público do caso narrado. Logo, uma vez não identificado com o mundo cénico, vê de fora a sua própria situação social reflectida no palco.
Através desta técnica, estuda-se o comportamento humano em determinadas situações, levando o público a tomar consciência de que tudo pode e deve ser modificado, exigindo dele a tomada de decisões.

As Categorias do Processo Dramático


A acção
A acção de um texto dramático compreende a sucessão e encadeamento dos acontecimentos vividos pela actuação das personagens. Nela podemos encontrar uma estrutura externa e uma estrutura interna.

- Estrutura externa
De um modo geral, estamos habituados à divisão da obra dramática em actos e cenas. Contudo, consoante a época e o tipo de texto, há algumas particularidades. Por exemplo, o teatro tradicional e clássico apresenta uma estrutura mais ou menos fixa, através da divisão da acção em actos, cenas e quadros: os actos são indicativos de mudança de cenários; as cenas e quadros, de mudança de personagens em cena.
Por sua vez, quer a tragédia quer a comédia gregas e latinas apresentam uma divisão em três ou cinco actos, constituindo o prólogo, os episódios e o epílogo.
No entanto, no que respeita ao teatro moderno, narrativo ou épico, a constução é mais complexa, embora articulada, não havendo respeito pelas normas tradicionais da estrutura externa.


- Estrutura interna (momentos determinantes da acção)
A acção dramática desenrola-se de modo semelhante à acção narrativa, isto é, as acções das personagens correspondem à introdução, ao desenvolvimento e à conclusão, havendo, no entanto, especificidades que decorrem do facto de ser um texto que se destina à representação. Sendo assim, temos uma estrutura baseada:
- na exposição, que consiste na apresentação de personagens e de antecedentes da acção;
- no conflito, que diz respeito ao conjunto de peripécias que fazem avançar a acção;
- no desenlace, que constitui o desfecho da acção dramática.


As Personagens

Concepção e formulação
-> Planas ou "tipos" - personagens sem vida interior, estáticas, sem densidade psicológica, dado que ao longo da acção o seu comportamento não se altera, apresentando alguns traços psicológicos característicos, que não sofrem transformações. É o caso, por exemplo, dos três governadores do reino: D. Miguel Forjaz, Beresford e Principal Sousa, em Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro.

-> Modeladas ou redondas - personagens dotadas de densidade psicológica, dinâmicas, com vida interior, podendo apresentar evolução no seu comportamento e nas suas atitudes. É o caso, por exemplo, de Matilde, da obra que referimos.

Papel desempenhado na acção
-> Protagonista ou personagem principal

-> Personagens secundárias

-> Figurantes

Processos de caracterização
-> Directa - pode ocorrer através das informações dadas pelas didascálias, através das palavras da personagem acerca de si própria ou de outras personagens e ainda através da descrição de aspectos físicos e psicológicos.

-> Indirecta - é a partir dos comportamentos, das atitudes, dos gestos, dos sentimentos, dos símbolos das personagens que o leitor tira as suas conclusões acerca das características das personagens, traçando o seu perfil psicológico.

O Tempo
O tempo em que decorre a acção dramática é curto, o necessário à apresentação do conflito, ao seu desenrolar e ao desenlace. Distinguimos três "tempos":
- Tempo da representação - duração da acção em palco.
- Tempo da história (acção) - época em que decorre a acção.
- Tempo da produção literária - altura em que o autor escreve a obra.

O Espaço
O espaço é caracterizado pelas didascálias, que fornecem informações necessárias à construção dos cenários. Podemos falar de dois tipos de espaço:
- Espaço cénico ou representado - aquele que diz respeito aos cenários onde decorre a acção e que estabelece a comunicação com os espectadores. São importantes o som, a luz, o guarda-roupa, entre outros.
- Espaço aludido - aquele que é referido pelas personagens, mas não é representado, ou seja, apenas lhe é feita alusão.


O Texto Dramático


No estudo do género dramático é necessário distinguir texto dramático de teatro ou representação teatral.
O texto dramático é entendido como pertencendo ao género literário do drama. Nele está implícita a dinâmica do conflito, onde as personagens representam as acções e reacções humanas numa atitude de comunicação directa entre si e o espectador. A sua função é servir o teatro; daí dizer-se que o texto dramático tem como finalidade a representação através dos actores. Trata-se, pois, de uma representação directa, que implica a sua concretização perante um público e a ausência de narrador. Os acontecimentos são representados de uma forma viva pelo facto de o drama ser, acima de tudo, acção.

É pelo facto de o texto dramático se destinar ao teatro que se distinguem nele características específicas, nomeadamente a existência de dois textos paralelos: o texto principal e o texto secundário.

- O texto principal (discurso dramático):
É constituído pelas falas das personagens intervenientes na acção e escutado pelos espectadores.

- O texto secundário (didascálico):
É o conjunto de indicações cénicas (didascálias) que se destinam ao leitor, ao encenador e ao actor, fornecendo-lhes informações sobre a movimentação cénica das personagens, o cenário, o vestuário, a luz, o tom de voz, os gestos, a postura em cena, a estrutura externa da obra (divisão em actos, cenas ou quadros), etc. Texto não mencionado pelo discurso dos actores, mas indirectamente presente na representação.

Há ainda outras características igualmente importantes no estudo do texto que se destina à representação:

-> é constituído predominantemente sob a forma de diálogo e, por vezes, monólogos e apartes;

-> ausência de descrições, que são substituídas pelas informações contidas nas didascálias, quer sobre o cenário quer sobre os ambientes, quer sobre as personagens;

-> registo de língua oral, concretizado através dos diferentes níveis de língua a utilizar de acordo com a personagem que se representa, com a situação, etc.;

-> as personagens assumem o papel do narrador, dando progressão aos acontecimentos através do discurso directo;

-> consequentemente, o tempo verbal predominante é o presente, porque a acção é vivida e transmitida pelas personagens ao mesmo tempo.